quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Memórias


Os amigos já não existem mais
O que resta é a saudade de recados escritos no passado
De memórias que estão corrompidas pelo tempo

Os toques, as vozes, os gritos
As boas risadas, o tempo juntos

A saudade daquele dia no parque em que conhecia uma garota e dois garotos
Algumas pessoas mais, mas que passaram depressa
Vivemos num carrossel e nesse circulo criamos vidas, criamos histórias

Ela com seus cabelos longos que foram cortados com o tempo
Ele que já foi rock e hoje vive do gospe e do pop
E ele... Que já foi e continua sendo de tudo um pouco

Qual o problema?
O erro do passado talvez tenha sido um acerto
Seja um bom menino, siga em frente
Não deixe as memórias lutarem

Uma carta, as letras, a forma com que se escreve
Foram boas semanas naquele parque
E veio então a estrada à sua casa e por lá me mantive
O cheiro do seu quarto, o seu cheiro

O espaço, o tempo, tudo me envolve
Seja um bom menino, seja você mesmo
Seja eu mesmo, sejamos nós por um segundo apenas

As vezes, as vezes eu sinto saudades
E venho escrever sobre elas
Nem sempre são palavras bonitas, mas são sempre de amor
Não é pra se gostar, são só palavras, são preciosas memórias.

domingo, 28 de novembro de 2010

Tempo


Eu queria entender este tempo que me cansa e que não existe dentro de mim. Este tempo que me consome e que eu não consigo parar de beber. Este tempo que flutua, este tempo que despenca. Esta Terra que me engole, e desta terra que eu tento saborear.
Eu quero entender um tempo de cores múltiplas, de cores misticas e de versos infaliveis. Não o tempo do relógio ou o tempo da minha casa. Quero o tempo dos deuses, o tempo do meu mundo, da minha vida, da vida dos amores, da vida dos incrédulos. Da vida dos... Da vida!

Eu quero uma montanha de flores belas e de árvores secas, de tempo passado, de tempo presente. Eu quero o tempo futuro, quero o tempo abstrato, quero um tempo pro tempo e depois desfazê-lo como tempo.

Quero ser o tempo de alguém, aliás quero ser o tempo de um alguém que já sei quem; ainda que este tempo não exista e que este alguém seja um personagem de minha imaginação. Não importa! Eu quero o tempo, o tempo, quero o meu tempo, o tempo de uma flor, quero o tempo de um século, quero o tempo da história, mas não me tornar um símbolo dela. Quero um tempo simples, um tempo frágil, um tempo meu, mais uma vez meu.

Quero um tempo pra acompanhar os meus pensamentos, quero um tempo em que eu possa correr sem ser alcançado. Um tempo pra ir tão devagar que não possa ser percebido. Quero um tempo pra poder apagar as letras que escrevo erroneamente, um tempo pra não me preocupar com elas. Quero tempo pras pessoas e um tempo pra nenhuma delas.

Quero uma máquina de fazer tempo e fazer e fazer e fazer. Quero tempos e tempos, tempos inésqueciveis, tempos que não se devam lembrar. Tempos de dor, de felicidade, de pulos e quedas. Quero tempo diverso, quero um tempo que eu saiba moldar, ainda que não tenha sido preparado pra isso fazer. Quero um tempo, dois tempos... Três até. Eu quero muitos. Quero tantos; e fazê-los meus. Meus. E então compartilhar.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Oito versos de você


Uma faísca. Uma voz. Um pensamento. Um vulto.
Levantei. Caminhei até a porta. Ninguém.
"Quem está aí?", perguntei. "Quem está aí?", respondeu.
Ninguém.

Subi as escadas de mim mesmo. Como sou grande!
Cai dos degraus. Como sou pequeno!
Saboreei desejos que não eternizam.
Meu quarto. Minha casa. Minha vida. Vazios.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Eu mais Eu


Somos cegos de mim mesmo
Somos neutros de um ao outro
Somos parte de um alguém
Somos um todo de ninguém

Eu sou o que somos
Somos o que fui
Do que sou, não sei se serei
Mas sei daquilo que não quero ser

Sou as letras, sou o vento
Sou eles sem querer me incluir no elas
Sou o "somos" de minha imaginação
Para mentir e dizer que não estou sozinho.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Caem algumas Cinzas


A vida borrou, o céu derreteu, os mares não se abriram
Meus vulcões acordaram, minhas florestas queimaram
Aquelas casas morreram, aquele cheiro sumiu
O som não se propagou, a dor continuou

A verdade é mentira, a poesia é a minha crônica
As vontades são guerras e as guerras são os meus contos
As paródias eu sou e as sátiras me fazem
Meus risos são magmas tocando a pele

Meus olhos eu pinto azuis
Mas eles transbordam negro e todos mergulham aqui
De dentro vejo paisagens vazias
E de fora vejo profundidade imensa

Nos fios de mim eu posso tocar
Labaredas em chamas eu alarmo e queimo aquele mar
Soberjo ele canta em ondas raivosas
Me queixo, mas sei que posso dele ganhar

Fundido a mim e cedendo aos outros
Eu ascendo e me culpo por não outros mais queimar
Os céus já são negros e eu sou o maior
Levanto, grito em chamas, encontro-me na esquina de casa, agora consciente.

domingo, 24 de outubro de 2010

Um Alguém Que Se Foi


Hoje há uma grande tempestade
Não porque a chuva cai lá fora,
mas sim porque caem gotas de mim, de nós.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

As Mentiras de Um Ser


Ela me olhou e disse aos meus lábios:
- Não somos uma mentira. Somos parte do mundo, somos um.

Ele respondeu:
- O mundo, as pessoas. Isso basta.

Ela, chorando, contestou:
O mundo não importa. Nós sim.

E ele indagou:
- O mundo é a mentira, as pessoas são mentiras. Você é parte dele.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ato 14: A Obscuridade invade o Céu


Estou subindo, mais alto do que posso imaginar. E continuo  e continuo, e não encontro as minhas nuvens. Grito pela Lua e ela não me responde, procuro pelas estrelas e não posso vê-las brilhar. A chuva não cai, o céu é escuro, um vazio.

- Anthygono!

Vozes.

- Anthygono! Onde você está?

Silêncio.
Percebi que as vozes eram do meu pensar.

Estava tão escuro e eu flutuando por aquelas escuridão. Queria que todos pudessem ver minhas asas curadas e meus dons que me foram devolvidos. Mas ninguém estava lá.

Fui voando de nuvem em nuvem e elas estavam negras, mas elas não queriam chorar e eu não pude entender porque se tornaram tão obscuras.

O céu era pura trevas.

Corri até a nuvem dois. Chamei por Sophie, ela saberia me explicar. Ela estaria lá, certamente.

- Sophie!, estou aqui. Apareça!

Sophie rastejou por detrás de uma nuvem e mostrou-se amedrontada. Uma de suas asas estava coberta por uma poeira preta em escalas de cinza, era bonito de ser; mas percebi que não estava fazendo bem a ela. Bati forte a minha asa e soprei os males dali, a nuvem dois voltou a brilhar.

Perguntei a Sophie sobre o que havia acontecido enquanto eu estive fora.

- Mythis, meu eu, o Sol já não nos mostra os seus encantos e nós caímos na escuridão. Gloirius foi para um plano superior e nunca mais o veremos e até mesmo Kratija nos deixou; ela era tão bela, mas deveria ter caído em seu lugar, se mostrava sempre superior e a nuvem vinte e seis nunca a admitiu como tal.

Gloirius já queria partir há muito tempo, mas sabiamos que haveria um desequilibrio entre as nuvens. Kratija queria tomar o lugar dele e, o mais importante, sem Gloirius (e eu) ali as nuvens estariam sujeitas as dimensões mais negras do mundo vizinho. Eles queriam tomar as nuvens e fazê-las parar de respirar.

Sophie continuou:

- A Lua está muito assustada e não tem aparecido mais e por isso estamos em trevas, o Sol se recusa a acordar se a Lua não surgir e as estrelas... Frágeis estrelas. Algumas delas perderam o brilho; os Hooksvitz apareceram e as atacaram. Foi tão triste, seus gritos de dor, seus gritos de horror. A Lua fugiu. Nós fugimos. Precisamos de ajuda, Mythis. Não estamos preparados, não sozinhos.

- Sophie, eu disse, não tema. Há muito eu cai, mas estou de volta, vamos... [um barulho interrompeu]

- São eles, Mythis. São eles.

E Sophie voou.
Continue flutuando por ali e vi um pergaminho no chão; a letra era dela, de Sophie. Comecei a ler:

Hoje o Livro de Mythis foi aberto, só percebemos porque o seu brilhar encanta a todos. Houve uma tristeza enorme que invadiu todas as nuvens, alguma coisa havia sido modificada no Livro. Não sabemos quem tenha feito isso, mas afetou a todos. As Sagradas Páginas estavam tocadas e uma delas caiu. Estamos preocupados com que os humanos podem fazer se a encontrarem. Enviamos um Anjo para tentar buscá-la, mas ele ainda não retornou. Espero que Mythis esteja bem, sinto saudades daquela parte de mim.

São eles!
Estou chegando, posso ouvir o barulho. Que terror! Os gritos!
Preciso parar de escrever, eles chegaram, estão atacando e eu...

E já não haviam mais escritas, acredito que ela não teve tempo para terminar.
O que houve exatamente?! Acho que o ataque as estrelas.

Voei para a nuvem quarenta e dois.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Contos de Eric Lima - Parte II


É engraçado como o mundo continua girando diferente de mim, ou eu que continuo girando diferente dele. Minha cama de memórias foi trocada (estou sendo falho, na verdade o lençol ainda é o mesmo e eu só desenhei novas cores em cima dele).

Neste conto eu ganhei mais do que antes, não para eles, mas sim para mim. E se vocês leram a primeira parte destes Contos saberão que antes a lástima era mais presente.

Hoje eu brinquei e no meu jogo eu arrisquei por deixar os momentos me levarem, mas os momentos que me levam sempre são os momentos que eu mesmo crio; não sei se são válidos (já que deveriam ser ao acaso), mas eu sei que são eles que me mantém firme.

O meu jogo carrega regras para mim mesmo, e só para mim. Mas vamos aos participantes...
       Quem são? - Aqueles que estão a minha volta.
Brinco de amigo, brinco de família, brinco de professor e até mesmo de poliglota. Por falar em professor e poliglota, hoje sei que aqueles métodos que previ no primeiro Conto são reais; as táticas existem e estão crescendo a cada vez mais, hoje posso ver claramente um educador, que caminha pelas estradas da UERJ e que lá mesmo educa aos seus aprendizes, além de outros lugares mais em que pisa para transmitir o seu Espanhol. Dizem que estou aprendendo Italiano e um pouquinho (quase nada) de Japonês, mas a minha vontade mesmo é de aprender o Francês.

Ah sim, aqueles que se foram e que nunca aqui estiveram... Esses mesmo nunca retornaram e aquele que eu achei que aqui sempre estaria, não esteve e não estará. Às vezes liga (estou mentindo aqui, a verdade é que nunca liga e que eu sou 90% do contato que temos). Alguns dizem que ele se importa, ele diz se importar; acho que isso já não é tão válido pra mim ou pelo menos eu acho que não seja. Às vezes a saudade é grande.

Saudades, mais uma vez. Mas de que? De momentos?!
E a vida continua com a saudade de memórias inexistentes.

Estes dias eu toquei uma flor e ela logo se quebrou, chorei aos ventos. Por quê? - Me comparei a ela.

Confesso que meu Buzz Lightyear me levou ao além, mas não ao infinito. Mas o Homem-Aranha nunca mais apareceu e eu desisti de me magoar por isso, percebi que eu me tornaria um céu de angústias.

Hoje as flores caem mais belas, surgem mais preparadas. Os Contos deixam de ser dolorosos e ganham um ar de confiança. Não sei se não acertaram no ponto central da bomba que trabalha dentro de mim ou se estou mais ciente das coisas, mas o que acho é que as folhas já não são mais brancas e que me acostumei a pintá-las de preto (às vezes).

Eu gosto de desenhos e os desenhos gostam de mim, não sei se é porque são criações de mim ou se porque lhes dou liberdade.

Hoje peguei uma folha e rabisquei um “x”, foi grande e ele cegou um nome. As lembranças que estavam ali certamente estarão guardadas, mas sei que não poderão mais ser tocadas; e não sei também se quero. Não tenho tido mais tanta paciência para debater com o meu eu interior, às vezes me calo, às vezes o calo.

Quero correr pra minha floresta e plantar novos frutos, mas sei que tenho que preservar as antigas árvores, elas são históricas. Não sei se cavo com a mão ou se pego uma pá, mas a vida diz que com qualquer uma das duas formas tudo será trabalhoso. Eu já me acostumei em cavar em terras de incertezas; quando cavo, quase me deixo cair, quase me deixo superar.

Hoje os atos já não são tão falhos e me pergunto o que eu deveria fazer. A resposta eu sei que não tenho e ninguém tenta entender.

Quase me esqueço! Os amigos. Ah, os amigos!
Não existem. Pois é. Não que eu não os encontre ou que não os qualifique, porque não podemos qualificar esse tipo de relacionamento. Mas aprendi que os momentos são especiais em momentos especiais e esses momentos não duram mais que meia ou uma vida, talvez.

E os amores?!
São amores enquanto são curiosos. E eles amam as máscaras que temos. Quando a fidelidade do seu ser aparece, eles correm. E não pensem que estou dizendo que deixaram de ser amores, não! Eles não deixaram. Eles foram, mas já não são mais.

E os sorrisos?!
Eles existem, nem sempre são tão belos, na maioria das vezes eles são tímidos. E confesso que os meus, ultimamente, tem sido tão distantes.

A comédia não me agrada e adoro rir dos terrores, as pessoas não entendem e eu não tento explicar, não adianta! Já me esforcei muito para entendê-las, mas elas nunca tentam me entender. E quando você insiste, elas partem. Elas sempre partem. E sabe o que você deve fazer para isso? – Simples. Seja sincero! Os seus amigos são amigos porque gostam de ouvir o que querem que digam deles, mas quando você se sente intimo e na liberdade de se expressar e de mostrar sua opinião eles se assustam, sabia?! Nesse momento você nunca foi amigo. É triste.

Hoje sei que não preciso dos outros para continuar, mas sei também que não sou solitário por isso. Meu mundo vive cheios de completos e vazios, e entre eles estão todos que me tocam. Não quero que sejam como um balançar, ora estão no alto, ora voltam a superficie, porém eles fazem seu balanço.

Hoje sei que o meu mundo é mundo porque o faço mundo e que as fantasias dele só depende de mim mesmo. E posso até citar o meu primeiro Conto aqui:

       “Novas pessoas novamente, novos ambientes de novo, tudo novo de novo.”

Meu mundo foi renovado e ainda está sendo, as comédias da vida já me tocaram e hoje estou mais sereno, mais tranquilo. Meu humor foi trocado. Desde sempre adorei as ficções cientificas e os filmes mais intelectuais, mais pensadores. Mas me disfarcei por um tempo para rir com as pessoas que estavam a minha volta. Já fui comédia, durei muito no drama, o suspense quase me matou.

Os humanos são engraçados. Alguns dizem que não. Mas eles são o tipo de terror que eu costumo rir.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ato 13: Uma Página do Diário de Werfielldd


Sai da piscina, vesti o roupão e entrei na casa. Estava frio; o ar que entrou pela porta da frente era mais gélido que a água morna da piscina.

A lua era Cheia.

Troquei minhas vestes, me sentei no sofá e liguei a televisão. Minha sala vazia assistia a um filme que estava sendo exibido; a cena em que estava mostrava um homem no inferno de sua esposa suicida, tentando resgatá-la para poderem viver juntos novamente (mas agora no céu)¹.

Lágrimas.

Eu chorei com o corte do frio em meus braços; os abraços dele já não estavam mais aqui para me acalentar e a lareira já não saciava toda a minha sede de calor. De calor humano. Do calor dele. Dele.

Corri por desespero, nem sei pra onde. Mas corri. Subi as escadas correndo e me atirei contra um quadro. O quadro. Era preto e branco, em escalas de cinza. Mostravam árvores vazias e solitárias, ainda que estivessem bem próximas. O chão não era verde, menos ainda florido. Eu podia sentir a essência vazando daquele quadro; era aquele cheiro de chuva, aquele cheiro de vento, aquele cheiro de... Era o cheiro da tinta que caiu sobre o seu corpo, sobre o corpo de Mythis. Era um cheiro suave, um cheiro que penetrou meu ser.

Olhei a janela; dez andares me separavam do solo; a debrucei na tentativa de sentir o ar fresco, o ar puro de automóveis transitantes que passavam por ali por baixo. Me enganei ao fazê-lo e (como se não soubesse que corria riscos) cai.

Nono andar, oitavo andar, sétimo andar. Eu podia contar cada um deles, é como se até meu suicídio fosse devagar sem ele. Sexto andar, quinto andar... Sexto andar, sétimo, oitavo, nono, décimo, décimo primeiro. Uma luz brilhante. Já estava bem acima do prédio.

- Mythis!

Asas grandiosas e brancas, reluzentes a luz da lua. Era lindo.

"- Werfielldd!", ele disse serenamente. Eu olhei em seus olhos, que já não eram mais castanhos claros; mas agora azuis como um céu lindo (o meu céu lindo). Brilharam, sorriram pra mim.

"- O Amor, Werfielldd. O amor. Não a solidão, não a dor."

Eu respondi a Mythis com um beijo que nenhuma palavra poderia descrever. Seus lábios serenos tocaram-me a boca. Eu me deliciei em seus braços, em seu abraço.

E voamos para sempre em suas nuvens de algodão, feitas com o desejo do nosso amor.


O relógio tocou. Eram 08:23 da manhã de Domingo. A chuva caia lá fora.

"- Mythis!", eu gritei. Um vazio. O cheiro do quadro ainda estava lá, mas ele não.

Alguém bateu a porta. Abri e um homem alertou:
"- O funeral será realizado ás 18:00, como o Senhor pediu. Minhas lástimas."

E a história da minha vida se encerrou.

¹. Referência ao filme What Dreams May Come

O Amor Eterno


Entrei, sentei, esperei
E com medo de perguntar o tempo que levaria,
a tela da minha vida eu vi passar, eu vi morrer.
Minha alma continua esperando, aqui, sentado.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Miléia


Foges de mim, Miléia
Por que de mim foges tú?
Por que de mim já não me completo?

Miléia, de brancos e coloridos,
de chuvas e solidão
Teus trovões não à mim me assustam

Não fujas de tua metade
Corras para dentro de mim
Miléia de todos nós, sejas única para mim.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vazio


Ao fundo uma preciosa melodia
A sala está gelada, solitária
Com tantos lugares aqui em casa,
a platéia foi visitar o vizinho

Os livros estão sobre a mesa,
as folhas jogadas e a melodia mudou
O vento ainda é frio e minha mente pensa
Pensa...

Lá embaixo eu vejo flores, lindas árvores
Aqui em cima eu vejo água, muita água
Vejo pessoas e vejo também suas pobres (tão pobres!) casas
As folhas ainda estão na mesa

A melodia mudou novamente;
me fez acordar...
Pensar...
A imaginação levantou, foi visitar o vizinho.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Eu Sou


Eu sou a música insistente de toda manhã.
Os ensaios diários, vespertinos e noturnos.
Eu sou uma vontade inquieta de aprender.
Eu sou o sono que não vem na madrugada.
Eu já fui alternativo, pop e agora sou rock.
Eu sou a preguiça de comer
E a alucinação por escrever.

Eu sou a mente fértil e as dúvidas inquietantes.
Eu sou as perguntas retóricas.
Eu sou a mania de falar o tempo todo.
Eu sou a alegria intermitente em sorrisos sem fim.
Eu sou o impulso, a precipitação e o exagero.
Eu sou a crença quando tudo parece perdido
E a esperança até a última tentativa.

Eu sou o garoto tímido desconhecido
E o tagarela conhecido por todos.
Eu sou o inconformismo e a persistência.
Eu sou a sensibilidade à flor da pele
E a fortaleza oculta.

Eu sou aquele que ama dar abraços e beijos
E que ama igualmente receber beijos e abraços.
Eu sou suspiros de alegria e de tristeza.
Eu sou a criatividade ambulante
E a eterna mania de contar histórias.
Eu sou a ânsia de estudar e de passar num concurso.
Eu sou a cabeça que nunca pára
E o comilão compulsivo das noites.

Eu sou o filho brincalhão e sonhador
E o maluco que a todos diverte.
Eu sou o amigo que ri o tempo todo.
Eu sou um eterno aprendiz
E, o obcecado por espanhol que estuda Letras.

Eu sou o romântico incorrigível,
E o que é sempre fiel mesmo depois de traído pelo mundo.
Eu sou a espera pelo amor da minha vida,
A transparência dos meus sentimentos que me deixam vulnerável,
E a entrega completa a esses sentimentos.
Eu sou o carinho e a carência.
A insegurança notória e a força invisível.

Eu sou o olhar no futuro e o prisioneiro do presente.
Eu sou a vontade de entender tudo
E a certeza de que nunca vou entender nada do que quero.
Eu sou uma lágrima perdida entre tantos sorrisos
E a felicidade por finalmente não me sentir mais sozinho.

Eu sou a leitura alta de textos e mais textos meus ou de outros
Eu sou isso e mais um pouco
Sou, talvez, até menos. Eu simplesmente sou.

Texto de Germana Facundo (adaptado)

sábado, 18 de setembro de 2010

Ato 12: Um Ato Falho - Escrituras de um Cego

Há Quatro Meses Atrás

Corro para meu quarto e vejo um livro branco cheios de linhas a serem escritas. O toquei e suas lembranças foram transmitidas aos meus dedos; algumas vidas já passaram por ali e algumas outras ainda virão...

Eu pude ver flores nascendo e cachoeiras pulando de felicidade (que felicidade!). Vi seus montes e suas balsamináceas, juntamente a seus donos. Donos?! Não, eram livres. Vi grandes peripécias de mares serenos. E vi igualmente desigualdades de ondas desses mares. O livro é confuso, completo de vazios e cheios, mas só os encontro quando os toco.

Alguém bateu a porta, meu pensamento foi atender, a voz disse:

"Não tente entender as infelicidades das páginas, pois suas felicidades são encontradas em você. As escritas que aí estão levam um nome de autoria, chamam Amor."

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ato 11: O Abrir de um Livro


Cansei de olhar as fotografias da minha memória, os anos passaram, as décadas se foram e nada aconteceu. Eles não me procuraram, não me perguntaram sobre como a vida (daquele que um dia pertenceu as nuvens) caminha ou se minha asa se curou (e eu digo: ainda não, doi muito).

Amigos, família, o que eles eram afinal?! Estou confuso, mas certo de que a união não existia, ou melhor, a compressão. Eu busquei respostas, pisei nas lâminas do chão, sentei e quis entender a janela de cada um, mas ninguém olhou para dentro da minha. Todos me apontaram.

Eu era um grande Mestre, sabiam?! Muitas das práticas que são ensinadas na nuvem 26 foram criadas e desenvolvidas por mim. Os Anjos cantaram muitas glórias em meu nome e a infância nomeia Mythis como "O Herói", agora "do Passado".

Esses dias eu estive olhando o luar e vi uma estrela brilhar forte, os humanos dão outro nome a isso, mas eu sei bem onde estava e o que fazia, só não sei quem. Sei também que meu Livro foi aberto, as luzes foram grandiosas, só ele ilumina tanto. Percebi que uma página deixou de brilhar. E você deve estar se perguntando como sei desses detalhes, mas é que foi eu quem criou aquele espaço, aquela leitura, aquela magia, mesmo de longe identifico minhas obras. E onde estava? Em minha nuvem.

Um poeira do livro caiu, voei discretamente e com muito sacrificio, já que uma de minhas asas estava muito danificada. Peguei a poeira celeste e a dissolvi sobre minha ferida.

Estava feito! Finalmente minha grande asa se curou. Agora poderia voar alto e tentar retornar ao lugar em que sempre estive. O meu Livro não se acabará. Bato as asas e vou de encontro ao Céu.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ato 10: A Partida


Aquela casa nunca foi minha, precisei deixá-la
Não porque me foi dito, mas porque ali eu não existia
Uma de minhas asas queima, a outra eu já não sei mais

O meu céu se tornou escuro demais, tenho que ir embora
Saio em direção a lugar nenhum
Me perco em igualdades

Sabendo que sou distinto, reconhecendo que não pertenço a mim
As saudades me deixaram, o fracasso me dominou
Me perco em minhas solidões; quero um adeus.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ato 9: O Presente Que Eu Não Recebi


Lá do céu gritaram e eu ouvi
Fui tão rápido ao quintal que meu corpo ficou lá na sala
Olhei para o Céu e lá estava a Lua
Ela falou em línguas que só nós poderíamos reconhecer

Disse que a Nuvem 3 estava preocupada e que me queria por lá
Ela mandou um presente e com ele eu poderia curar tudo
Eu aceitei e corri pra dentro, peguei a caixa que mandou
E o presente não estava lá

As lágrimas correram, o desespero chegou; caem gotas de mim
A lua era irreal, subi as escadas correndo e me joguei na cama
Chegando lá encontrei meu corpo e o meu pesadelo despertou
Meus olhos transmitiram os mares que eu tenho vivido

O cheiro da casa já me perturba, ainda que só eu viva aqui
Os quadros carregam abstrações de mim mesmo
Os meus gritos estão guardados em cada pedacinho de cada quarto
Mas a minha Lua me fez enxergar que aquele presente não pode ser recebido aqui.

sábado, 11 de setembro de 2010

Fragmento de Um Poema


Inteligente e sedutora, caminhando entre os mortais
Uma caixa Ela trazia e, mais tarde, a abriu:
era o presente celeste. De lá sairam tantos males...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ato 8: O Luar de Mythis


Hoje é noite de luar
Há algumas nuvens no meu céu, mas lá fora está estrelado
É bonito e medonho, o meu mundo não brilhou hoje
Eu cansei e me entreguei

Hoje é noite de luar
O Outono não chegou e o Inverno eu não quero
Meu aconchego foi embora e minha cama dorme no campo celeste
Hoje é noite do luar deles

Hoje eu conto a noite do meu luar
Em que não há casas sorridentes ou almas voadoras
Meu luar não tem Lua e esplendor
Hoje é noite de...

Maldito luar, fui abandonado
Sou um réprobo celestial , minha nuvem não existe mais
"- Mythis!", ela me chama novamente.
Bate à porta a tempestade de memórias que só cai em mim.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ato 7: Um Ato Que Não Deveria Existir


Achei ter morrido, me perdi completamente. Os outros Atos já não me tocam e o ser que aqui escreve já não é o mesmo que tocou os outros Atos. Já não sou o mesmo da nuvem dois.

Nas últimas décadas eu tenho contado muitas histórias felizes e tenho tentado me alegrar. Eu assobio risos que não me pertencem e brinco de ser alguém.

Queria poder contar diamantes brilhantes, mas já menti o bastante pra conseguir isso. Eu tenho tentado afastar o que há alguns (muitos) meses se afastou de mim. Substitui aquele espaço por duas outras pérolas, as vezes elas brilham muito, as vezes eu as faço brilharem menos (não que realmente percam o brilhar, mas minha paixão -as vezes- diminui [se é que realmente existe]).

Eu queria poder gritar pro mundo que me curei daquela dor em minhas veias. Mas minha vida se uniu a Melpomene.

Ah... Eros, que saudades de ti!

As flores que crescem em meu jardim, não as acho encantadoras. Me apaixono pelas flores do vizinho. Mas não sei ao certo em que fase Perséfone está, me confundo em seus caminhos.

Os dias atuais eu já não sei mais. Acho que são brutos, acho que são serenos. Quero provar que tudo pode ser compensado e que as folhas que cairam há algum tempo não estão mais aqui, que o vento foi violento e as levou (sem chances de voltar).

Ontem a Lua falou comigo, uma faísca de esperança acendeu. Mas tudo morre. Não sei ao certo o que pensar...

Estas palavras, estes pensamentos... Nada deveria ser comentado. Este Ato deve ser ignorado. Voltemos ao Ato 6.

Sua P.


Parece que pretende dar continuidade a esta história. Está contrariado e começa a agir como um guri. Mas existem circunstâncias particulares as quais eu lhe explicarei talvez um dia; por bondade, pare e seja razoável. Que coisa estúpida tudo isso! Você é indispensável para mim e prometeu me obedecer. Lembre-se de Schlangenberg. Peço-lhe para ser dócil e, se necessário, eu lhe ordeno.
Sua P.

P.S.: Se está irritado comigo pelo que aconteceu ontem, me perdoe.

Citação do livro "O Jogador", de Fiódor Dostoiévski.

domingo, 5 de setembro de 2010


Chegamos às pedras e lá sentamos. Ela começou a falar:

“Não passamos de raios de luz adornados pela escuridão, tudo que glorificamos parou de flutuar; estamos no chão. Você já não representa mais os caminhos, você já não consegue mais brilhar nos céus, você não...”

Parei e a mirei nos seus serenos olhos castanhos. Atentei-me que a ela lhe gostaria ouvir alguns dizeres em retorno a sua fala. Eu não sabia o que contestar, gostaria de sussurrar em seu ouvido que a idolatrava, mas não poderia. Comecei calmamente:

"Não sei ao certo o que esperas ouvir, minha amada, mas a verdade é que junto a ti (como estamos vivendo) não consigo mais ver Eos chegar, minhas noites tem sido eternas. Queria ter o dom de Nereu e poder transformar cada linha do nosso tecido da vida para que estejamos entrelaçados, mas estou em máxima consternado. Não existem mais campos verdes com nascentes flores ou jovens crias de seres em glória."

Ela colocou sua delicada mão sobre a minha, a envolveu carinhosamente. Mergulhou em meus olhos e sabia que agora já não éramos mais um único pensamento, sabia que naquele momento acabáramos de oficializar a ramificação de nossa mente, de nosso coração; éramos dois ou mais, talvez.

Eu contemplei as lágrimas que escorriam em sua face e ela se tornou feliz com as que caiam sobre a minha. Juntos choramos. E essas lágrimas então brilharam e nossos olhos se tornaram novamente cintilantes ao enxergar a luz que Hélios agora trazia mais uma vez.

sábado, 4 de setembro de 2010

Desejo!


Desejo que hoje não seja o seu melhor dia
Porque se assim o for você não precisará viver os demais

Desejo que hoje não seja o começo
Pois o começo já foi feito há anos atrás

Desejo também que não seja o fim
Já que sendo o fim, eu não poderia mais me orgulhar de você

Desejo que hoje seja um dia, apenas um dia
E que sendo um dia, você possa desfrutar dele e lembrar de momentos simples
E ao se lembrar dos simples momentos lembre-se de mim

Não desejo que sejas feliz
Pois felicidade é algo que transparece em você

Desejo que seja você e que ao ser você seja eterna
E que sendo eterna seja heroína

Desejo que ouça os ventos, que nade no amor e que suba aos céus
E chegando lá, desejo que olhes para baixo e veja minhas lágrimas de felicidade por você

Desejo que construas novos caminhos
E que não se esqueça dos antigos, pois eles te levaram a rota certa

Desejo, acima de tudo, que tenha seus próprios desejos
E que os tendo, deseje que hoje seja uma comemoração apenas do que já comemoramos todos os dias

Deseje o seu viver, o seu ser especial, deseje ser você
Desejo, por fim, a celebração honrosa que é lembrar de você.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Borrar De Uma Tela


Brilha a melodia cantada por magos
Em suas magias de célebre cantar
Grita os montes dos pastores em glória
E ruge o leão na selva de cores

Pinta o pintor a pintura manchada
Pinta o pintor a mentira revelada
Cai a tinta nas margens da tela
Cai a tinta como a acesa vela

Ventilando as cores daquela selva criança
O leão, bravo guerreiro, desperta do sonho
Suas margens se borraram e o pintor então o apagou
Fugiu, correu, morreu numa pincelada de dor

Agora os montes sofrem demais
Os magos encenam magias em cristais
As histórias se tornaram contos
Seus poderes, a pintura, as cores, tudo virou abandono.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Melodia dos Céus


Ela está lá fora...
caindo sobre tudo
Derramando as dores e vitórias
Ouça... Ouça...

É como uma canção de ninar
É como uma leve bomba que está a estourar
Contando a todos o que vez fazer; mostrando a todos o que pode levar

Não escolhe sobre quem... Cai sem eleger
Desesperada ela está... Grita por segredos que não pode contar
Busca por alguém que a possa compreender
Mergulha nas fendas do chão e tenta de lá se libertar
Caindo...
Ouça... Ouça...

Cria luzer lá no alto... Com ruídos espetaculares
Bonita mesme sem se ver; tão apreciavél de escutar
E nós estamos com ela... Mesmo sem querermos ela vem e pode ficar
Você pode tentar, mas não consegue dela escapar

Sonhe ao seu som! Durma com seus gritos!

Desde pequeno ela vem te visitar
Agradeça o que ela vem te dar
Não expresse um adeus
Lembre-se da canção que ela oferece... A melodia dos céus

Ouça... Ouça....

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tarde de Domingo


O telefone tocou
Ele disse: "Vamos sair?"
Eu tentei esquecer os anos em que ele esteve fora
Respondi: "Não há pra onde ir!"
E, calmamente, contestou: "Apenas vamos andar por aí".
Eu não pude.

O telefone tocou de novo
E ele então falou: "Preciso sair".
Dessa vez eu não consegui hesitar e contestei:
"Fugiu e volta como se fosse um vizinho intimo?!"
A ligação caiu.

Peguei o telefone, só podia ouvir o som de "sem rede"
A esperança resumida em minutos trocada por abraços alheios
Aquela tarde se tornou a noite de outro

Pegou o telefone de novo
Mas desistiu naquele dia como em muitos outros
Ele desligou...
Desligou a minha vida!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Contos de Eric Lima



Hoje fui deitar com as minhas lembranças e espalhei todas por sobre a cama. Olhei de repente algumas que estavam mais em cima e vi algumas boas loucuras e sorri por um momento. Joguei-me por sobre elas e fui pegando memória por memória em minhas mãos. Achei interessante como vivi muito e só depois de alguns (vividos) anos eu comecei a prestar mais atenção na vida. Antes não existiam amizades sinceras, preocupação com fidelidade e muito menos romances que se eternizaram. Puxei uma lembrança por sob mim, era pesada e trazia muitos momentos de bons delírios e de outros menos aproveitados.


Avistei uma recordação de há poucos anos atrás: descobri vida nova, novos momentos, novas pessoas, novos ambientes, tudo renovado (ou só eu que descobri o que já existia?! Não importa, vivi!). Cometi erros (isso se houverem erros) e acertos. Aprendi e reaprendi. O tempo continuou passando e fui vivendo o que a brisa trazia e sem perceber acabei caindo nas ondas mais turbulentas da vida, aquelas através das qual Afrodite fala. Vivê-las foi realmente intenso. Muito mudou.

Puxei algumas lembranças juntinhas num canto, tímidas, as olhei profundamente. Nelas o relógio continuou correndo e me transformei em um espelho. Eu fui uma completa máquina de realizar sonhos; pras pessoas eu fui seus desejos, suas loucuras, fui suas necessidades de ouvir e falar; fui uma secretária eletrônica, bem daquelas que só você fala e o outro apenas ouve (pois bem, eu só ouvia). Perdi muito com isso e ganhei também ou pelo menos achei que ganhei (hoje vejo que nada recebi em troca, apesar de não ter pedido algo em volta).

(E se você que está lendo isso acha que é uma confissão depressiva, está errado/a!)

Mais minutos se foram e eu perdi cada milésimo de segundo pensando nos sentimentos dessas pessoas que estavam (e alguns ainda estão) a minha volta. Nunca fui ouvido por eles e posso contar nos dedos quantos pararam e me deixaram falar (minha boca explode de tantas palavras guardadas). Na verdade, conto apenas dois (que se tornaram parte do meu maior tesouro) que trocaram palavras e não apenas ouviram (esses que valorizo não me deram a dor do silencio, deram-me a dureza da verdade: obrigado!).

Olhei perto do travesseiro da cama e vi uma lembrança muito tímida se escondendo ali. Ela trazia tantas vontades e nenhuma ação, deu-me pena quando vi e até quis repreender, mas lembrei-me que eram as minhas próprias recordações. A acariciei e ela se derreteu de amor por sobre mim; só precisava de carinho. Era uma parte de mim incapaz de demonstrar afeto. Que parte sofrida! ... Uma lágrima caiu (fui generoso ao mentir aqui, a verdade é que muitas lágrimas caíram). Não sei ao certo se devo chorar por essa memória que não pode ser concertada, mas as músicas tocadas me lembram muito a melodia do choro que invade o meu ser.

Ao lado da lembrança anterior vi uma lembrança quase gêmea, mas a única coisa que mudava é que era uma lembrança mais desafiadora, mais capaz de ações. Logo a deixei de lado, também trouxeram algumas lágrimas em minha face; dessa vez foi a saudade. Que saudade!

Vi muitas lembranças, algumas eu quis jogar pela janela, outras quis que dormissem comigo todas as noites e eu viveria anos só dos bons momentos. Mas até que me peguei preso por uma semana em meu quarto, em minha cama com as memórias mais amáveis do mundo (elas me davam carinho e palavras tão bonitas) e percebi que deixei de aproveitar horas e horas de um mundo que vive comigo agora e que me prendi ao que só estará em minha mente (e eu queria, trocaria qualquer coisa pra transformar tudo de novo em presente).

Foi então que peguei lembranças mais recentes e adivinha?! Continuei não aprendendo muita coisa; acabei vendo que ainda haviam muitas manchas das recordações anteriores, elas são fortes e abraçam as memórias atuais; como pode?!

Vi uma saltando freneticamente; foi uma aprovação tão desejada e tão buscada e as conseqüências dela são aulas diárias durante quase todos os dias de uma semana completa. Ah!, eu também avistei, junto dessa memória, um professor aprendendo métodos novos e oportunidades que se abriram (e outras que ainda virão).

Novas pessoas novamente, novos ambientes de novo, tudo novo de novo. E aqui dentro ainda bate memórias e memórias, são fortes demais. E elas miram o presente que vivo. Essas memórias sabem que tenho novos telefones e novos programas de televisão, mas ainda assim elas miram no alvo e acertam em cheio. Há dias em que me afundo profundamente nas minhas recordações mais turbulentas.

E de tudo, muitos se foram e alguns estão indo. Os mais próximos eu já não consigo enxergar. E os que são distantes, esses continuam com frases do tipo “Oi, tudo bem? Tchau!”. E o que farei com tudo isso? O que faço dos que foram e dos que nunca estiveram aqui? É tão confuso aceitar que há programas que simplesmente param de serem exibidos, é tão difícil saber que vou ligar a televisão e que aquele herói não estará mais aqui pra me proteger, pra me magoar e me ensinar (e até ser ensinado).

A realidade é que não sei quem sou justamente por ter tantas lembranças que não me definem; fui um pouquinho de vários Erics que existem em mim mesmo. Meus momentos atuais são confortáveis e confesso que até me agradam. Me pergunto se devo me juntar aos brinquedos e com eles brincar. Não sei se meu presente é um Buzz Lightyear com o seu “ao infinito e além” ou qualquer outro personagem, mas a verdade mesmo é que sinto falta do Homem-Aranha.

Inutil



Comunicativo, sincero, atencioso...

Sou so perfect =)
MENTIRA!

Eu sou aquele que mente pra você
Aquele que finge ser um mundo e é apenas uma ilusão

Eu sou o meu medo e o medo de todos
Eu sou a covardia
Eu sou o vazio, além disso... Eu sou uma metade do nada e uma outra metade que ninguém quer

Eu sou o que vai rir com você, virar as costas e te achar idiota
Mas serei fantasia o suficiente pra te dizer que adorei

Com vocês, eu sou a diversão, sou os risos e os bons momentos
E sozinho, pra mim mesmo, sou as tristezas e os choros
Sou aquele que sempre se mostra forte, mas que –no fundo- é o ser mais fraco que você conhece

Eu sou o ser mais escuro dos Universos
E me mostro o ser mais claro de todos eles

Eu sou dor, ódio, perturbação
Sou perdido, sem querer ser achado

Sou uma história que ninguém quer ler
Mas mesmo assim espero por alguém que, curiosamente, tocará em minhas páginas
Sou como um livro que tem como titulo o meu próprio nome, mas esse nome têm mentido demais pra que alguém acredite nele

Na verdade, de tão inútil que sou, eu não sou nem isso que escrevo.

Solitude


E aqui jaz mais uma noite
Uma noite minha e tão somente minha
Que então compartilhei...

Eu vi rostos bonitos e faces obscuras
Mirei olhos que não eram os que eu queria
Admirei a tantos que saber contar nem saberia

Toquei lábios tão femininos e tão suaves que tive vontade de correr
Meus pés se firmaram no chão, insanamente desejando acordar
Fechei os olhos e então uma escuridão, vi três ou quatro estrelas brilharem

Naquele mar escuro de estrelas eu li pessoas que não conheço
E eu me trouxe de volta com a chuva caindo sobre mim, os pés frios e molhados
Eu olhei ao redor e procurei por algo que não sei
E então eu subi, subi alto em meus pensamentos e brinquei de realidade
Eu olhei dentro das gotas de água que caiam e desejei ser uma delas
Ser simplesmente como uma bomba que cai lá de cima e ao encontro com a terra estoura

Eu tentei ser um arco-íris e brilhar entre outros
Olhei pro Sol (fraco) e também as nuvens negras
Olhei dentro de mim, olhei para fora de mim
Parei, tentei pintar as cores... Cai intensamente
Eu tentei olhar onde meus olhos não podem enxergar
Vejo tão preto e branco que as cores eu não soube borrar
Sombrio, sozinho...

Venho aqui contigo me deitar, desejando como – Ó ti – saber jazer
Minha noite, noite linda
Minha e tão somente minha que não soube compartilhar.

Sábado à Noite



Aos poucos fui caindo, não entendi

Uma intensa tristeza bateu
Meu eu não me compreendeu

Uma vontade de chorar
Com lágrimas quase a derramar
Tudo se tornou cinzento

Foi confuso...
Inexplicável!

De repente uma vontade de sorrir
De tudo ali colorir
Lotar de cor meu interior

E os momentos se misturaram
O triste, o alegre, o confuso, se imitaram

Foi uma parte da noite,
Pequena, mas tão longa
Em que não sei explicar,
Simplesmente vivi sem perguntar.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

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Não haviam placas indicando o caminho.
Não haviam setas para me guiar.
Sem saber para onde ir, fiz meu próprio caminho
Apontei minhas setas... Descobri um mundo diferente, um mundo meu.
Daí encontrei você. Um caminho que me leva sempre em frente e que, as vezes, me faz olhar para trás, só pra lembrar um pouquinho do que já aconteceu.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ato 6: O encerramento. Eles chamam "fim"



Um dia nublado com muito vento
Ele veio a porta, bateu. Eu abri e ele disse:
"O tempo está exatamente como você gosta"
Eu respondi que sim, estava maravilhoso; sem chuva.

Ele ameaçou entrar, eu hesitei
Ele feliz e eu indiferente
Ele disse "Eu te amo" e me abraçou
Eu chorei por detrás de seus ombros

Ele se apressou a entrar, estava um lindo frio
Mais uma vez disse "Eu te amo", em seguida acrescentou: "Você me ama, certo?"
Eu tremi e respondi: "Não."
Seus olhos deixaram a chuva cair

Como uma criança obediente, ele disse: Tudo bem!
Susurrou: "Eu entendo", e virou-se.
Ele ameaçou sair; eu o abracei, o beijei e deixei o vento bater a porta.
Ele perguntou "Acabou?" e eu respondi: "Sim, eles chamam Fim".

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ato 5: Eu amei


Depois de alguns anos vivendo aqui, eu amei.
Seu nome? Não importa! Ele foi o bastante.

Acabou. Teve um fim. Não foi pra sempre.
Não poderia ter sido.

domingo, 1 de agosto de 2010

Ato 4: Recordações

Eu me lembro das epocas em que nadava em arco-iris, em que pulava de nuvem em nuvem; dos tempos em que eu subiria tão alto que tocaria o espaço em questão de segundos.

Eu me lembro dos toques das asas amigas e daqueles que partiram daqui, do Sol tão forte que só nos poderiamos vê-los. Hukkaniouus! (uma expressão que usamos aqui para saudar aquilo que acreditamos ser extremamento belo)

Lembro de um dia ter conversado com Sophie sobre os últimos acontecimentos da nuvem dois. Ela disse que já não haveriam mais tempos de brisa serena para mim e que eu deveria deixar de insistir naqueles que eu não sentia mais, naqueles que deixaram de me sentir. Eu estava ali e simplesmente deixaria de estar. Sophie foi determinada em sua fala, me assustou. Mas ela era meu reflexo, não mentiria para mim. Mais uma vez voei.

Eu me lembro de uma tarde linda de um céu colorido, depois de uma conversa com Sophie, em que eu estava voando por ele. Eu me senti perdido e girei ao ar, girei, girei, eu girei... Fiquei tonto, perdido. Não com as voltas, mas com a confusão do meu ser. As minhas asas já não carregavam um corpo santo, mas sim uma árvore oca. Eu cai.

Cai, mergulhei (ou achei ter mergulhado) tão forte que bati no chão. Fui além das fronteiras das minhas nuvens, das nuvens deles. Minhas asas doiam, elas se machucaram, uma delas queimou. Era insuportavel entrar no mundo daqueles que eu via por sob mim quando estava nas nuvens.

Eu me lembro de, depois de ter caido, ter ficado aqui. E depois de ter ficado aqui, ter encontrado o dom dos humanos. Eu me lembro de ter criado uma vida humana, na esperança de um dia verem meu brilho de lá de cima e me resgatarem; talvez a Lua pudesse me ver, mas ela era real demais para poder me levar de volta.

Eu me lembro de ter vivido. Vivido. A vida dos humanos e os carinhos incompreensiveis deles.
Era uma vez 'Mythis no Céu'. É a história que conto pra mim mesmo. As cinzas de mim me doem.

sábado, 31 de julho de 2010

Ato 3: Uma Conversa Com A Lua


Marchei em direção a Lua. Sentei em uma estrela.

- Estás tão bela hoje. Só de pensar que havia me esquecido do teu brilhar já fico arrepiado.

Arrepios de solidão.

Olhei pra cima. Nada. Olhei pra baixo. Humanos.
Saltei, mergulhei. Eu adorava a sensação de estar caindo a incontaveis kilometros abaixo. O ar passava tão rápido por mim. Qualquer um diria que era loucura, não para mim.

Lembro de uma vez em que mergulhei tão depressa que quase esqueci de abrir minhas asas.
Asas.

- Mythis!, ela disse, não me fale das peripécias que nem tu já suportas mais.

Calei-me. Voei dali. O céu se tornou frio.

Ato 2: Nuvem Nove



- Você está bem?
   Ei, você! Está bem?

Meus olhos abriram, tremeram diante da luz. Aquela voz suave tocou meus ouvidos.

- Sim, eu estou.

Eu estava caindo sobre a nuvem nove. Acho que adormeci sem perceber.
Acordei.

Primeira observação: Vi dois ou três passos marcados no chão por onde passei.
Segunda observação: Por ali, quando caminhavamos, não tocavamos o chão. Flutuavamos por ele. Não deveriam haver pegadas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Ato 1: O Cantar


Eu me lembro de um dia em que estava passeando pelo ar e me deparei com um rapaz. Ele tinha altura mediana, um pouco menor que eu. Seus cabelos eram de cor castanho escuro e seus olhos brilhavam num lindo preto. Ele dirigiu-se a mim e disse:

- Você não canta bem.

Mas você nem se quer me ouviu cantar!

- Eu aposto as minhas asas que você não canta melhor que eu.

Eu já o tinha ouvido cantar antes e, digo-lhes, não eram sedas que tocam os ouvidos. Eram fios grossos. Respondi:

Se eu ganhar, eu fico com suas asas e assim poderei voar mais alto.
Chamamos Anthygono para nos ouvir e então ele começou:

- Lioris shkanibdus ondra erc ♪

Em uma linguagem própria daqueles que andam sobre o ar

Comecei eu (a mesma melodia):

Lioris shkanibdus ondra erc ♪

Anthygono disse: Ele me agrada mais, Mythis.

Eu protestei, não podia acreditar. Mas o homem me falou:

- Eu apostaria a minha vida contigo, Mythis. Você já não suspira mais os ares onde andas. Suas faces são melancólicas e você não inspira o auge dos campos daqui. Suas histórias se tornaram cinzas e o seu ser arde em chamas; chamas de tristeza, de agonia. Sua expressão não poderia ser melhor ou pior que a minha. Ela não existe, logo não pode competir. É uma pena que rastejes por aqui. Sei que um dia já foste um belo Anjo.

E suas palavras então me calaram. Abandonei mais uma nuvem.