sábado, 7 de abril de 2012

Poeiras de um Sábado Qualquer


Ó!, doce criança, não escondas tuas vestes de mim, da tua pele já vesti muitas e muitas vezes.

Doce sonho, eterno sonho, não se inspire em mim; meu corpo que em tu já não imagina mais.

Dos cubículos que me destes, nenhum dos sonos perdidos foi-se solitário, nenhum conto encontrado fez-se amargo. Jamais pesadelos vividos nesta fantasia recorrente.

Inspira-te em livros que leio agora e que dizem que "entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas. Sozinho não o podia fazer." ¹

As vitórias teu corpo conta e das felicidades tuas almas são grandes sábias. Destas vestes que dominas, destas histórias que não contas... Vitórias entre paredes. São tuas!

Ó!, doce criança, não eternizes noites frias e desérticas. Aprendas, tu, a regozijar este corpo teu de esperanças no amanhã. Vejas a Lua lá fora, ainda que ela, lá, não esteja. Imagina-te banhado ao Sol, renascendo.

¹ Franz Kafka

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Contos de Eric Lima – Parte V


Prólogo

A minha vida tem seguido como um Oceano de segredos, no qual se mergulha profundo e podem-se encontrar tesouros que já não valem mais. Há alguns (muitos) meses eu segui minha própria jornada, num barco pequenino, cheio de emoções.  As ondas eram serenas e o meu Sol sempre brilhava forte. Segui a minha vida, segui os meus desejos,. Entreguei o mais íntimo de mim e nada em troca pedi. Apenas fui.

O Oceano é muito grande, e numa outra onda eu esbarrei, logo meu barco pequenino se transformou num grande navio. Ali se festejava todos os dias e noites; o céu era iluminado não só pela Lua, mas também pela felicidade que explodia até além do horizonte. Os olhos não podiam enxergar, pois o brilho do Amor era tão forte que cegava qualquer um que tentasse, entretanto criamos uma nova maneira de viver a nossa vida, sentíamos e víamos tudo apenas com o coração e seus sentimentos mais puros e belos.

A Lua eu sempre desejei. Era tão maravilhosa e doce. Daqueles raios muito me banhei. Ele do Sol gostava mais e, assim, nos completávamos em nossos contragostos. Tudo era impecável.

Vivi muitas batalhas, mas contei muitas vitórias. Dos erros muitas aprendizagens. Até que, um dia, sem qualquer explicação. Aquela onda grandiosa que mergulhava junto comigo saltou do navio. Pela noite, enquanto eu dormia, ela mergulhou nas ondas alheias. Eu não soube e não poderia adivinhar, mas a Lua estava lá e me contou tudo alguns meses depois.  


Histórias de um Luar

Contou-se muitos ventos em minhas histórias, contou-se muito de mim nas histórias de um outro alguém. Contei muito a mim mesmo que já não me pertencia a mim, contei muito aos céus que um arco-íris eu podia pintar.

Nos últimos tempos tenho plantado num campo verde com sementes promissoras, peguei um sol e o amarrei no meu céu, juntei algumas nuvens e as fazia transitar por ali as vezes. A lua eu sempre pintei com estrelas ao redor; a noite só se fazia noite porque ela estava ali.

Meu campo começou a se revoltar contra mim, não sei ao certo o que havia de errado, mas minhas plantações não geravam frutos. A minha vida eu deixei se revoltar e acabei por perder o controle. Haviam muitas placas indicando o caminho, mas risquei todas elas e simplesmente me ceguei aos céus. Com o tempo pude saber que aquelas sementes não guardavam fantasias, mas sim aquilo que era real. Não poderia eu tentar criar um sol ou ventos refrescantes, elas precisavam apenas de um pouco de realidade para poderem crescer firmemente.

Os últimos tempos não tem sido promissores, deixei de ser agricultor e passei a ser um contador de histórias. Desliguei-me daquilo que eu sempre quis fazer e me perdi em seduções do maravilhoso. Hoje tenho contado muitos contos e crônicas, meu corpo tem sido uma tela de poesias; falo muito do mundo alheio, mas esqueço a mim mesmo. São tempos difíceis, tempos de batalhas intensas, mas me percebi em mim e não me entregarei aos montes de canhões invencíveis.

Entro numa batalha infinita e acabo perdendo muito das rosas que estavam nascendo naquele meu campo tão desejado. Eu o queria florido, feliz. Mas minha tempestade quebrou muitas das minhas rosas; na verdade ela quebrou todo o meu palácio de beleza. Não é um lamento, mas não posso mentir e preciso dizer que é uma das maiores tristezas já vividas, apesar de que não sei se é assim porque eu assim o conto ou porque a minha realidade assim reflete. É uma dúvida insana que explode dentro de mim.


À Eternidade

Entre as dores do prólogo explicado, deixei o Oceano e fui plantar. Não é verdade que não o amo, pois o desejo com todas as forças do Universo que me banha. Mas a minha onda foi quebrada e persistir me levaria apenas a um mar desconhecido no qual eu deveria muito navegar e, lá na frente, com problemas comuns, ele se entregaria a ondas mais que não as minhas. Contei três vezes Ilhas desconhecidas na qual ele pisou; não há mais espaço para dores em meu coração. Ele já não enxerga mais.

Depois disso, me tornei agricultor. A Lua contou. Mas, não quero perdê-lo de vista, apesar de todos os erros nos amamos. Mas um amor louco que sempre busca brechas. Por isso, me fundi a Lua. E ele, ao Sol. Hoje passo as minhas noites plantando para que durante o dia ele possa vir com os seus raios e aquecer os meus frutos e, assim, o faço presente em minha vida. Não o quero longe, mas não o sinto tão perto como antes. Ele se afastou antes que eu pudesse pedir pra que não fizesse.

Minhas flores choram demais. Minhas raízes estão presas nas ondas dele. Meus frutos nascem felizes, mas minha Lua não o encontra no céu. Somos dois que deveriam viver em um. No eclipse nos encontramos.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Um Verso Assassino


Meus sonetos contam minha vida
Meu coração escreve cada refrão da minha melodia
Sangro minhas felicidades, sangro minhas dores

As cores mais belas criei,
os suspiros mais profundos te dei
Te fiz meu mundo e mergulhei

Minha árvore chegou a Primavera
Dos seus galhos muitas flores nasceram, muitos frutos morreram
Do seu tronco muitas marcas surgiram

Meus poemas são quase que um grito
Minhas escritas se tornam um atrito
Fujo da realidade, sou a queda de um meteorito

A Terra completou uma volta completa,
mais dois meses se passaram
Algumas angústias restaram

Meu soneto foi borrado por um refrão malcriado
Ensinei tantas vezes, mas ele foi desgraçado
Lutei em vestes brancas, estou todo manchado

Foi-se belas harmonias, foi-se bela melodia
As minhas mãos carregam amor, o meu corpo treme como um tambor
Minha razão já não funciona mais

Ó histórias incriveis de minha vida
Por que criar um refrão tão indigno a nós?
Dois, um, dois; você e eu; você, eu. Ainda assim nos confortando.