domingo, 28 de novembro de 2010

Tempo


Eu queria entender este tempo que me cansa e que não existe dentro de mim. Este tempo que me consome e que eu não consigo parar de beber. Este tempo que flutua, este tempo que despenca. Esta Terra que me engole, e desta terra que eu tento saborear.
Eu quero entender um tempo de cores múltiplas, de cores misticas e de versos infaliveis. Não o tempo do relógio ou o tempo da minha casa. Quero o tempo dos deuses, o tempo do meu mundo, da minha vida, da vida dos amores, da vida dos incrédulos. Da vida dos... Da vida!

Eu quero uma montanha de flores belas e de árvores secas, de tempo passado, de tempo presente. Eu quero o tempo futuro, quero o tempo abstrato, quero um tempo pro tempo e depois desfazê-lo como tempo.

Quero ser o tempo de alguém, aliás quero ser o tempo de um alguém que já sei quem; ainda que este tempo não exista e que este alguém seja um personagem de minha imaginação. Não importa! Eu quero o tempo, o tempo, quero o meu tempo, o tempo de uma flor, quero o tempo de um século, quero o tempo da história, mas não me tornar um símbolo dela. Quero um tempo simples, um tempo frágil, um tempo meu, mais uma vez meu.

Quero um tempo pra acompanhar os meus pensamentos, quero um tempo em que eu possa correr sem ser alcançado. Um tempo pra ir tão devagar que não possa ser percebido. Quero um tempo pra poder apagar as letras que escrevo erroneamente, um tempo pra não me preocupar com elas. Quero tempo pras pessoas e um tempo pra nenhuma delas.

Quero uma máquina de fazer tempo e fazer e fazer e fazer. Quero tempos e tempos, tempos inésqueciveis, tempos que não se devam lembrar. Tempos de dor, de felicidade, de pulos e quedas. Quero tempo diverso, quero um tempo que eu saiba moldar, ainda que não tenha sido preparado pra isso fazer. Quero um tempo, dois tempos... Três até. Eu quero muitos. Quero tantos; e fazê-los meus. Meus. E então compartilhar.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Oito versos de você


Uma faísca. Uma voz. Um pensamento. Um vulto.
Levantei. Caminhei até a porta. Ninguém.
"Quem está aí?", perguntei. "Quem está aí?", respondeu.
Ninguém.

Subi as escadas de mim mesmo. Como sou grande!
Cai dos degraus. Como sou pequeno!
Saboreei desejos que não eternizam.
Meu quarto. Minha casa. Minha vida. Vazios.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Eu mais Eu


Somos cegos de mim mesmo
Somos neutros de um ao outro
Somos parte de um alguém
Somos um todo de ninguém

Eu sou o que somos
Somos o que fui
Do que sou, não sei se serei
Mas sei daquilo que não quero ser

Sou as letras, sou o vento
Sou eles sem querer me incluir no elas
Sou o "somos" de minha imaginação
Para mentir e dizer que não estou sozinho.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Caem algumas Cinzas


A vida borrou, o céu derreteu, os mares não se abriram
Meus vulcões acordaram, minhas florestas queimaram
Aquelas casas morreram, aquele cheiro sumiu
O som não se propagou, a dor continuou

A verdade é mentira, a poesia é a minha crônica
As vontades são guerras e as guerras são os meus contos
As paródias eu sou e as sátiras me fazem
Meus risos são magmas tocando a pele

Meus olhos eu pinto azuis
Mas eles transbordam negro e todos mergulham aqui
De dentro vejo paisagens vazias
E de fora vejo profundidade imensa

Nos fios de mim eu posso tocar
Labaredas em chamas eu alarmo e queimo aquele mar
Soberjo ele canta em ondas raivosas
Me queixo, mas sei que posso dele ganhar

Fundido a mim e cedendo aos outros
Eu ascendo e me culpo por não outros mais queimar
Os céus já são negros e eu sou o maior
Levanto, grito em chamas, encontro-me na esquina de casa, agora consciente.