quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

De Você, um Eu de Mim


Sonha a dor de tempos malditos
Chora a dor de tempos perdidos
Canta os gritos do Amor Maior
Soa os ventos do meu último Dó

Sou uma criança de uma colheita feliz
Sou as raízes de uma mediatriz
Vivo as terras do meu olhar perfeito
Brinco os risos de um sorriso estreito

Não sou imperfeição e dor
Não são lamentos de um horror
Faço-me feliz ao te cuidar
Ainda encanto-me no teu olhar

És de mim meu bem maior
És de mim um eu sem nó
Esquecido nunca serás
Do meu lado, pra sempre, estarás

Não correr um do outro jamais
Não temer o futuro, advirtais
E nunca, jamais, finalizar a nossa ida
E infinitamente erguer a nossa vida

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma Eternidade de Amor


Num momento inespecífico da história dois grandes símbolos se encontram. Seus nomes chamam Eternidade e Amor. Contam-se breves palavras trocadas por eles, mas contam-se muitos momentos vivenciados a partir deles:

Chegou ao precipício e perguntou:
- Se eu cair, chegarei ao fim?

E ele, rapidamente, respondeu:
-Não! Não há fim!

E então, serenamente, o Amor se jogou. Criou-se o Amor Eterno.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um Deserto de Você


Uma rosa de céu nublado se abriu hoje
Frenesis de um camaleão brotam em mim
Meu corpo todo é mutilado,  todo o meu corpo é moldado

Das minhas raízes tú já não brotas mais,
das minhas terras o novo eu sabe do que sou capaz
Sou de mim um eu que vive em você

Sombras da Lua caem em meu jardim, minha rosa exala você
Num querer, num morrer, num novo nascer, você
Ser humano que já não suportas mais

Sou extraterrestre de mim mesmo, e te roubo em mim
Sou dum mundo de nós dois
Sou dos desertos solitários um oasis de albatroz

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Fragmento de Uma Eternidade


Conta-se um fragmento acerca de um homem de jovens histórias, mas com um coração cheio de antigos amores. Mortos, coitados. Ele, vivo, porém, achando ter sofrido...

Há Algumas (Muitas) Horas Atrás

Sou feito de um tempo corrido, um tempo sereno; sou pétalas de rosas caídas, sou chamas de um fogo ardente. Nos últimos tempos tenho tentado criar peripécias, pois o meu corpo já não as produz mais; tenho morrido a cada dia e tenho tentado sobreviver a cada minuto deles. Sou feito de um vulcão gélido, de uma paisagem negra; sou o fruto proibido, mas meu veneno foi dissipado. Sou a sintonia de um esqueleto em uma lápide esquecida.

Ele, agora, vivido, louco de amores e sentidos...

Há Alguns (Poucos) Minutos Atrás

Meu coração bate memórias que parecem se eternizar. São sonhos loucos e passageiros e ligeiros, batem forte contra a minha cabeça e parecem insanos saltando dentro de mim. Meu coração bombeia algo que não tenho reconhecido mais e minha mente tenta decodificar as mensagens levadas por ele. Os anticorpos não são mais uma solução necessária, descobri que não posso combater a mim mesmo.

Guardou-se histórias contadas ao vento, seus fragmentos caíram ao lado da minha cama. Eu os li, os engoli. Abri aquele corpo e descobri que não havia um, mas sim dois. Viviam dois naquele coração feliz. No verso da escritura havia uma nota:

Somos como uma labareda infinita e que por mais que pareça morrer, nunca deixará de existir. Somos as Cinzas dessa mesma labareda e se um dia nos apagam, como Fênix renasceremos. Nossa história é mais que um fogo ardente, são histórias de dois corações interligados que queimam um único amor juntos e ao final morrem para poderem então renascer. Somos uma novidade a cada Cinza que renasce. Somos um. E isso resume tudo. Tudo.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fragmento de Uma História


As folhas secas despertam a primavera que há lá fora. O mundo gritou meu nome, mas eu não soube responder. Os ventos surgem mais fortes que antes e eu acho que posso correr nas ruas. Elas são solitárias e agora a noite cai, não sei dar espaço ao tempo e não sei dar tempo ao espaço, logo faço a união das minhas linhas e as interligo em mim. Vivo como um passaro que canta meus bens, canto minhas histórias pro Sol ouvir; agora que a noite me acaricia, eu sento à beira da rua e deixo meu olhar adentrar profundamente a Lua; como é bela!

Há muito vento por aqui e as nuvens da manhã se esconderam. Há um belo céu estrelado e me banho em gratidão. Não sei ao certo a que sou grato, mas me sinto dominado pelo espirito noturno.

Ouço uma melodia ao fundo que me balança em seus braços, não me dedico a entender o que se é dito, meus pensamentos se concentram em jorrar as letras que agora escrevo. Não estou em um mundo épico e não estou num mundo tonto, estou aqui, estou ali, estou lá em baixo, estou lá em cima, estou no meio, estou. Apenas estou.

Eu poderia dizer que sou as correntes de um mar uivante que grita por suas conquistas e suas derrotas. Já engoli muitos navios e os guardo eu meu museu. Eu sou gelo e sou, também, fogo ardente. Eu sou o Sol que morre em mim e sou a Lua que nasce aqui. Mas no fim, não quero fazer com que pensem que sou tão somente esse mar uivante. Resumo a dizer que sou eu e que sendo eu me sinto em mim.

Um fragmento de mim caminha pelo quarto, as luzes estão apagadas e o vento sopra distante. Estou deitado e numa fração de segundo estou em pé. Me sinto triste, mas me sinto honrado. Converso com dois, mas quero um. Me sinto no meio de um grupo que não posso dominar. Sinto que toco muitos e que poucos podem me adentrar, mas ainda assim insisto numa ligação frequente com o mundo externo.

Dos tesouros que escondi, apenas um eu encontrei. Plantei árvores de segredos e hoje colho frutos de fantasias. Imagino cada passo de mim e sem saber que posso muito acabo por andar um kilometro ou dois. Nado nas minhas dunas e acabo encontrando um oasis; sou águas abundantes em meio a um deserto; sou a necessidade de uma miragem inalcançavel. Sou histórias que não se explicam, sou meios que não possuem inicio e fim, mas que apenas nascem.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Uma Folha Branca de Mim


Brota de mim a ausência de uma folha em branco
Sementes de palavras surgem nas minhas fronteiras
Mas folhas de decepção crescem em minhas veias

Meu sangue jorra ouro
E minhas lágrimas derramam amor
Minha lápide descreve outro nome

Minhas nuvens são pintadas negras
Eu as chamo escuridão
Meu lamento é ser eu

As tempestades eu faço
E com os trovões eu converso
A neblina não me cega

Sou parte de outro ser que vive em mim
Sou moedas em um cofre
Sou a harmonia de um acorde

Chamo-me por mim
Mas quem atende é um eu que não sei
Grito suave para mim

Sou sussuros de partes perdidas
Fui uma flor solitária numa floresta
Sou o Sol de uma manhã fria.

domingo, 14 de agosto de 2011

Uma Lembrança de Você


De um mundo ao outro
De abraços a afagos
Sobre um terno gentil
Sobre um véu sutil

Serenas melodias
com lágrimas corridas
Singelas memórias
de força estrondosa

Um dia de Sol, com ventos ao redor
Um dia d'Ele de ausência
O coração se recheia de presença
O grito forte chama por Ele

E lá do céu se ouve responder
E as nuvens desenham o seu rosto
Os belos anos vividos
Um homem, uma família, no coração, Pai.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Se você ama, diga que ama.


Se você ama, diga que ama. Não tem essa de não precisar dizer porque o outro já sabe. Se sabe, maravilha… mas esse é um conhecimento que nunca está concluído. Pede inúmeras e ternas atualizações. Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na frequência da escassez. De quem tem medo de gastar sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando moedinhas de afeto. Há amor suficiente no universo. Pra todo mundo. Não perdemos quando damos: ganhamos junto. Quanto mais a gente faz o amor circular, mas amor a gente tem. Não é lorota. Basta sentir nas interações do dia-a-dia, esse nosso caderno de exercícios.

Se você ama, diga que ama. A gente pode sentir que é amado, mas sempre gosta de ouvir e ouvir e ouvir. É música de qualidade. Tão melodiosa, que muitas vezes, mesmo sem conseguir externar, sentimos uma vontade imensa de pedir: diz de novo? Dizer não dói, não arranca pedaço, requer poucas palavras e pode caber no intervalo entre uma inspiração e outra, sem brecha para se encontrar esconderijo na justificativa de falta de tempo. Sim, dizer, em alguns casos, pode exigir entendimentos prévios com o orgulho, com a bobagem do só-digo-se-o-outro-disser, com a coragem de dissolver uma camada e outra dessas defesas que a gente cria ao longo do caminho e quando percebe mais parecem uma muralha. Essas coisas que, no fim das contas, só servem para nos afastar da vida. De nós mesmos. Do amor.

Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá...
Ana Jácomo

sábado, 16 de julho de 2011

Contos de Eric Lima - Parte IV


Sou de mim um alguém que escreve condutas e termos que não sei regrar. Neste Conto não sou a continuação daqueles outros já contados, tampouco sou um excerto de uma filosofia vivida, sou palavras vivas e letras ardentes; apesar de não saber o que venho contar, me ponho a escrever e sinto a brisa me guiar por linhas de uma montanha-russa de pensamentos. Deixo o arco-íris de mim transbordar as minhas cores.
 
Os últimos tempos tem sido calorosos, apesar de muito friorentos em determinadas etapas. Aprendo a controlar os fenômenos de mim e sem perceber acabo sendo controlado por outro; controlado não é bem a palavra certa a ser usada, já que me completo ao deixar que outra mão guie a máquina de mim.

As folhas de minha árvore caíram muito nos últimos meses, hoje elas voltaram a renascer, mas confesso que houve semanas em que pensei que meu tronco seria queimado pelo Sol ardente; ele acalenta, claro, todavia chegou forte demais... Quase não podemos resistir. Aqui eu uso nós, pois já não sou o único em mi, dentro do meu corpo vivem dois. Ou três? Perdi-me na definição daqueles que vivem aqui dentro. Conto um que sou eu mesmo, conto dois que sou outra parte que vai contra a primeira e conto três que é aquele que é externo a mim, mas que se faz tão presente e único que bate forte no meu coração.

Houveram momentos de boas batalhas e houveram momentos de colheitas infelizes. Nas minhas pesquisas, muito faltei. Das minhas rosas, muito cuidei. Troquei o lápis por beijos e me derreti em sabores; a conseqüência é inevitável e sei bem que meses mais serão contatos em minha dedicação final de leitura/aprendizagem.

Entro num grande castelo e me vejo como rei, mas não autoritário ou um deus da razão. Vejo um que fala num idioma diferente daquele que escrevo agora e vejo pessoas que ouvem, mas que dominam as letras que aqui escrevo; elas atentam e absorvem. Sei que daqui a alguns meses serão dominadoras da linguagem daquele rei. Hoje o rei ensina um, pratica três e amanhã ensinará dois, é certo. Num futuro, talvez, três ou mais.
Os coros da minha vida são muitos, canto nuvens e estrelas, canto águas e cachoeiras, canto vozes de desejos que um dia se cumprirão. Grito forte contra o céu, quero expandi-lo acima de mim e para mim.

Sou incertezas entre versos. Sou escrita orgulhosa, sou escrita certa, sou escrita imprecisa, sou dono de rimas, ainda que não as saiba interligar; escrevo aqui aquilo que não sei, não leio antes para os excertos combinar, escrevo apenas tudo que minha mente pode projetar. Chamo-os excerto, pois não são um todo de mim, são pensamentos corridos que se transportam em minha mente, os fotografo rapidamente aqui em minhas linhas. Se os perco, não importa, se os ganho, guardo a memória.

Ligo a televisão e vejo a tela de mim passar, assisto a tragédias e vitórias, assisto a dramas e romances bem vividos. Troco as telas por músicas e meus dias se tornam cantados. Sento ao piano e acaricio as notas do mundo, sem saber manejá-lo, imagino as cores que saltam de sua melodia.

Vivo o amor de um furacão sereno, vivo o amor de um furacão indomável. Os seus ventos são surpresas pra mim, corro dele e para ele, corro com ele e me banho nele. Quase sempre morre em vento sereno e nasce um aconchego inigualável, as vezes se lembra de que é um furacão e causa algumas dores, mas logo as acaricia. Ainda que eu não saiba até onde posso suportar, tenho amado bem. É uma natureza sem fim. Admiro-a em mim.

Nestes versos que muito contei, sempre haverá frases perdidas e parágrafos inteligíveis. Não são pedaços de você ou pedaços de mim, são reflexos do eu que vive aqui e são um todo do amanhã que construo. Guardo as histórias que me conto. Guardo o sangue que trasborda as felicidades e as tristezas de mim. Sou mais que lápis, papel, mais que um feliz extremo de mim. Sou eu, sou único, sou dois, sou três, sou um milhão de incontáveis números que nascem e morrem em mim.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Relato de Um Coração Que Chora


Explode a melodia de um coração em lágrimas
Corta-se um pedaço dele e joga-se ao vento
O amor construído não importa
Os meses de felicidade saem pela porta

Gritam os desesperos do meu corpo destruído
As batidas do meu amor fecharam a porta
Tudo desmoronou, não me sinto em mim, estou caído
Sem chão, um abismo

Ainda assim tenho que lutar
Mesmo eu tendo sido fuzilado
Corro atrás de quem me atirou
Sou ignorado, destroçado

Mesmo em fúrias minhas em que tenho a razão
O poder dele é maior sobre mim, o amo, é verdade
A que ponto suportarei essa maldade?
Dor infinita dentro de mim

Late meus medos lá fora
Ainda assim temo que ele vá embora
Mesmo sendo desprezado e arruinado
Quanto vale o meu sincero amor afinal?!

Eu sou um pintor que desenhou beleza e fidelidade. Meu pincel foi traiçoeiro e pintou tudo de preto. Minha tela caiu ao chão, estou como um rio que morre aos poucos. Choro muito, dor profunda. Mas não há quem seque minhas lágrimas. O telefone desligou. Desligou a minha vida.

Obs.: Ainda assim o amo com todas as minhas forças.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ode a Você


Num deserto corrente
Numa luta sem fim
Encontro você
que se um a mim 

Não é o meu deus
Não é um carmesim
É mais que um anjo
É tudo pra mim

És mais que um meio
És um completo sem fim
Uma eternidade de céu
ab aeterno, em latim 
Em pensar que um dia
Sem você pude viver
Em cores mudas de vida
Troquei o meu ver

Falsetas de vozes
É tudo um morrer
As almas de mim só gritam uma coisa
“Querer”
É dos sinos mais belos
Que vem a melodia
É do coração mais puro
Que espera por mais um dia
Em rimas de versos incontroláveis
Ousado como sou, arrisco mais que a melodia
Encontro uma maneira de resumir você
E de fugir da cantoria:

Num deitar de sonhos: você
Num acordar da manhã, meu Sol
No ano, meus meses
Na vida, minha história.

sábado, 28 de maio de 2011

Suspiro de um Coração Saudoso


Olhou nos meus olhos
Tentou se aproximar; com medo
hesitou e repudiou minhas lágrimas

Os segundos passam rapidamente
As horas são preenchidas pela minha ausência
Os dias se resumem em um único dia

Os toques se calam
e os meios não se encontram
a saudade me possui

Tento exorcizar essa cachoeira
de vontade que transborda em mim
Afogo-me nessas águas

Não sou um pássaro que insiste em cantar
Você é a melodia que brilha em mim
Se não a toco, não posso viver

Morro em ditos infelizes
de um coração que desampara tanto afago
Ainda que more em mim

Não há perdas de mim ou você
Não há súplicas
São vibrações honrosas que só sinto ao tocar você.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Contos de Eric Lima - Parte III


Hoje despertei na madrugada e me levantei da cama. Abri a janela do meu quarto imaginário e pude ver a Lua. E as estrelas. Uma perfeita harmonia; tão real.

Eu comecei a pensar, ainda que eu soubesse que já vagavam ondas de telas e telas em minha mente antes mesmo que eu pudesse pintá-las. Telas desbotadas, telas adornadas de um belíssimo preto e branco, e telas coloridas.

Sentei-me na varanda e pude acompanhar o esplendor do dia nascer. Mergulhei em seus raios e me queimei de emoção.

Fiz uma fogueira de nuvens e me coloquei a arder em chamas. Dancei sobre aquele chão transcendente. Faíscas de Hefesto surgiam de mim. Algumas delas bailavam mais que outras e algumas nasciam e morriam. Era curioso de se sentir.

Uma faísca enorme surgiu de mim e ela queimava o passado, ardia vínculos sociais e profissionais. Atento para o fato de que, neste Conto, não falarei mais dos amigos e dos amores não vividos ou que um dia achei ter vivenciado. Achei ter.

O fogo queimou muita experiência e não as deixou escapar, consumiu todo conhecimento que viu pela frente e adentrou as terras dos poliglotas, ainda que não somasse tantas línguas assim a ponto de fazê-lo como tal. Meu pensamento agora brinca de cantar em vozes que não conheço.

Neste Conto eu tentei adentrar o mar e as terras da batalha, tentei ser mais forte. Há alguns meses eu prometi que domaria os mares como Poseidon e seria como Ares em meu dia a dia, mas o tempo me consumiu e me perdi em minhas tentativas.

Meu corpo queimou o fim de uma era que nunca começou. E queimou, também, os desconhecimentos do passado. Eu caminhei por águas de concreto e sempre que mergulhava eu ficava preso, imóvel. Era difícil mergulhar ali, mas com o tempo aprendi a moldar as suas ondas até poder chegar à beira e caminhar na floresta.

Há alguns meses as minhas chamas tem sido mais ardentes, mais cheias de si. Elas se tornaram abrasadoras e queimam com toda a força. O meu pensamento me contou um conto e neste me foi dito que as coisas um dia mudam e que me entregar a mudança era necessário; aprendi que a minha vida estava sendo moldada assim como as ondas que eu um dia moldei. Desta vez era prazeroso, era tudo feito por mim e pra mim. Que descoberta!

As dores já não sofrem mais e os gritos já se calaram. Os ventos já não passam sozinhos e as brisas, nos últimos tempos, chegam carregadas de carinhos. Vento o Sol, queimo a Lua, bebo amor, expiro a eternidade. Quem diria?!

Há chamas ciumentas que querem brigar com as outras; algumas se exaltam e fazem da floresta uma grande queimada. Mas logo são derrubadas pela chuva e as brisas chegam de novo. As piores são as gêmeas, que são parte uma da outra e há uma dependência entre elas, mas ainda assim continuam a se imporem entre si. É curioso que aqui, em especial neste parágrafo, eu não falo de mim. E não seria interessante nomear as letras daquele que eu penso, tampouco é interessante atentar a este fato que escrevo.

O fogo arde forte dentro de mim e consome cada pedaço do meu corpo. Chamei Afrodite e me surpreendi quando a ouvi gritar de dentro de mim. Felicidade.

As chamas que hoje queimam se acabarão, certamente. Meu corpo arderá tanto que se fará em Cinzas. Não porque vivi menos ou porque tudo que contei (ainda que não tenha sentido para a grande maioria que o estiver lendo) não teve importância. Aqui, quero dizer que, falo apenas de um e para um. E não há mais o que me importe ou o que eu tenha que descrever. Não pensei em palavras arrojadas ou palavras adornadas. Simplesmente soprei os pensamentos aqui. E a intenção não é que seja belo ou simples; é simplesmente que eu possa desafogar, que eu possa nomear as ondas que ventam em mim, ou melhor, que queimam em mim.

Eu poderia descrever milhares de ardências que queimam deste meu fogo, mas não haveriam espaços o suficiente e menos ainda lápis que escrevessem tão rápido quanto penso. Entrego-me a ausência de fatos e adentro as terras da eternidade. Minha memória queima intensamente dentro de mim.

Eu queimo aprendiz, queimo educador, queimo filho, queimo pai (ou pelo menos um alguém que tenta educar como tal) queimo diversão, queimo união, queimo ausência, queimo tristeza (as vezes é necessário).

Há algumas chamas que não pulam de felicidade e exalam confusão. Mas nunca são deixadas de lado pelas demais e são sempre acolhidas pela labareda central que exerce em meu ser. Eu gosto do Sol queimando em mim.

Há quase cinco atrás comecei a arder, hoje já não sei parar... A verdade é que tudo se resume as diversidades que vivo agora. E, como eu disse, as chamas de hoje certamente se acabarão. Elas deixarão de queimar e se apagarão. Restarão Cinzas de Mim. Mas o mais importante de tudo é que, hoje, sei que essas Cinzas se farão Fênix e guardarão toda a história que atualmente vivo. Queimarão, soprarão aos ventos e então poderão renascer. O que restam?! Cinzas de Vida. De amor. De você. Retifico, de Nós.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ato 15: Lágrimas de Mim


Chegando a nuvem quarenta e dois, me perdi em mim. Eu não encontrara os ventos como os deixei. As brisas se tornaram furacões e as tempestades predominavam. As crianças eu não via e os mais sábios já não conheciam tanto a ponto de sobreviverem.

Continuei flutuando por ali e, ao canto, vi alguém se escondendo. Eu disse: “Não tema, é Mythis que está aqui”. E, desesperadamente, aquela menininha correu para os meus braços. Seus olhos azuis iluminaram todo o trajeto por onde ela passou, eram lindos. O medo dela era transparente em seu corpo, ele tremia, exalava dor, estava totalmente destroçado pelo terror. Eu não pude suportar aquela dor. Foi então que voei, voei tão alto quanto eu poderia e cheguei ao último estágio de nuvens existente; continuei voando e depois cai como um raio; parei no meio de tudo e explodi. Explodi luz e usei de todo o poder do livro que criei para restaurar e restabelecer tudo que havíamos perdido. Eu gritei, era demais para mim.

Sophie chegou voando, era a única que não seria cegada pela minha luz. Era a parte de um andrógino que há milhares de anos fora dividido em dois. Era o outro “eu”. Ela me abraçou e envolveu meu corpo com suas asas, era perfeito. Uma luminosidade ainda maior encantou os céus. Os humanos acharam que o Sol iria abrasar a Terra, mas o Sol (naquele momento) era feito de mim e eu o usei para queimar as impurezas daqueles que abrigavam as nuvens. Uma tempestade passou por ali. Raios e trovões, tremores e gritos. Fim. Os males haviam sido destruídos.

Os detalhes eu não sei contar agora, os sentimentos me tocam e caem lágrimas de mim. Naquele momento eu lembro ter caído sobre a nuvem dois e lá ter ficado desacordado (foi Sophie quem me contou). Preciso visitar a Lua e respirar um pouco. O próximo ato é importante para mim.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Flores de mim


Cheguei a conclusão de que não vivo
Morri com os românticos de anos atrás
Vivo buscando a flor bela de um campo meu
e nunca a encontro nos campos teus

Me cego com dois ou três
e me perco em cinco ou seis
Me completo apenas por um,
mas nestes tempos não encontro nenhum

Planto cravos e espinhos,
colho gramas murchas e incapazes de viver
Reluto vida, reluto amor
Encontro dor, planto dúvidas

Sou o pólen das flores tuas,
mas minhas abelhas brincam em outros jardins
Não cai na febre dos fenos,
mas teus lírios me afastam demais

Brinco de Eva ao morder o fruto proibido
e encontro Adão nas minhas fronteiras
Sou Perséfone em nosso âmago e Atenas quase sempre fui;
me transformo em Afrodite e acabo como Artêmis

Sou a incerteza de dois corpos
envolvida no meu ser
Sou a vontade louca de amar
e a medida envolvente de outros seres em minha vida.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mutável


Sou mutável. Altamente mutável. Ora quero, ora não quero – sou absoluto na minha mutabilidade. Quero a todas as coisas com a mesma intensidade. Tenho a necessidade do querer. Quero nas horas mais improváveis. Quero mais ainda nas ocasiões exatas. No momento mesmo do acontecer. Tenho a força vital do querer. Em minhas carnes, em minha vontade. E eu a deixo expandir-se. Eu assim a quero. Tenho também, em mim adormecida, a força de expressão. Mas, quero a expressão como condição.

A condição de não ser uma opção. Porque ser condição é diferente de ser opção. E, na minha condição, tudo posso. E tudo podendo, eu quero. E ela liberta-se de mim e ganha o espaço. E, tonta pelo ar perfeitamente puro do espaço, ela se dilui, recompõem e cristaliza-se no espaço seguinte; E lá estou e não estou. Sou mágica de pensar que estou e não. Sou par de olhos castanhos rasgando a noite e sou boca cantando na noite. Mas, meus olhos não vazam toda a escuridão, nem minha boca canta todas as canções. Pois, há limitações no querer dos olhos, e também existem canções que não devem ser cantadas e, sim, vibradas. Em corpos muito próximos, cada vez mais próximos. Até que a lua, infinitamente cheia e branca, surja em meio ao negror noturno. Então, quero mutar-me mais ainda. Infinitamente.

Quero ganhar o espaço. O espaço de corpos unidos para que possa haver a condição. A condição de ser total e completamente a expressão do amor feito na noite.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Gotas


As gotas de mim caindo em mares de tristezas eternas
São gotas de manchas da minha história incompleta
Uma história de uma semana, de um mês ou um dia
Um único segundo reflete o eu de mim mesmo

Eu sou como uma onda perdida em um rio sem volta
Sou como as asas de um pássaro que busca sua tribo
Ou mesmo um passageiro que não sabe pra onde vai

Eu reconheço aqueles da vitória e mais ainda da derrota
Eu sou aquele que tem certeza de que deseja um alguém
E num outro instante já não o quer mais
Eu sou flexível ao máximo e destrono como um trágico acidente

Sou feito de pele macia, mas me visto de metal precioso
O meu toque é carinho e meus lábios são vontades
Meus olhos dizem por mim, minha face não fala
Eu sou um alguém

Eu queria ir pra casa, mas pra lá não sei voltar
E de lá, não sei de onde vim
Eu queria um momento meu e de alguém mais
Mas hoje já não sei mais quem é esse alguém

Eu não sou perdido, só não consigo me achar
Eu já me achei, mas continuo me querendo perdido
Eu sou as gotas das minhas lágrimas
De felicidade, de tristezas, de mim.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Os Dias


Hoje as gotas de chuva caem com menos força
Hoje as pedras já não são tão sólidas
O céu não é tão brilhante e as estrelas não são tão visivéis
Hoje a rua está mais vazia

Ontem o telefone não tocou
As pessoas não falaram
Ontem as coisas não aconteceram
Ou eu não aconteci

Amanhã as árvores estarão secas
E seus frutos mortos
Amanhã o vento não soprará
E eu sentirei a falta daquilo que nunca existiu

Nesses e nestes dias eu não soube contar
Eu não rimei, eu não inventei, eu não senti
Daqueles dias eu não cuidei
Aqueles e estes dias eu não vivi.