sábado, 31 de julho de 2010

Ato 3: Uma Conversa Com A Lua


Marchei em direção a Lua. Sentei em uma estrela.

- Estás tão bela hoje. Só de pensar que havia me esquecido do teu brilhar já fico arrepiado.

Arrepios de solidão.

Olhei pra cima. Nada. Olhei pra baixo. Humanos.
Saltei, mergulhei. Eu adorava a sensação de estar caindo a incontaveis kilometros abaixo. O ar passava tão rápido por mim. Qualquer um diria que era loucura, não para mim.

Lembro de uma vez em que mergulhei tão depressa que quase esqueci de abrir minhas asas.
Asas.

- Mythis!, ela disse, não me fale das peripécias que nem tu já suportas mais.

Calei-me. Voei dali. O céu se tornou frio.

Ato 2: Nuvem Nove



- Você está bem?
   Ei, você! Está bem?

Meus olhos abriram, tremeram diante da luz. Aquela voz suave tocou meus ouvidos.

- Sim, eu estou.

Eu estava caindo sobre a nuvem nove. Acho que adormeci sem perceber.
Acordei.

Primeira observação: Vi dois ou três passos marcados no chão por onde passei.
Segunda observação: Por ali, quando caminhavamos, não tocavamos o chão. Flutuavamos por ele. Não deveriam haver pegadas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Ato 1: O Cantar


Eu me lembro de um dia em que estava passeando pelo ar e me deparei com um rapaz. Ele tinha altura mediana, um pouco menor que eu. Seus cabelos eram de cor castanho escuro e seus olhos brilhavam num lindo preto. Ele dirigiu-se a mim e disse:

- Você não canta bem.

Mas você nem se quer me ouviu cantar!

- Eu aposto as minhas asas que você não canta melhor que eu.

Eu já o tinha ouvido cantar antes e, digo-lhes, não eram sedas que tocam os ouvidos. Eram fios grossos. Respondi:

Se eu ganhar, eu fico com suas asas e assim poderei voar mais alto.
Chamamos Anthygono para nos ouvir e então ele começou:

- Lioris shkanibdus ondra erc ♪

Em uma linguagem própria daqueles que andam sobre o ar

Comecei eu (a mesma melodia):

Lioris shkanibdus ondra erc ♪

Anthygono disse: Ele me agrada mais, Mythis.

Eu protestei, não podia acreditar. Mas o homem me falou:

- Eu apostaria a minha vida contigo, Mythis. Você já não suspira mais os ares onde andas. Suas faces são melancólicas e você não inspira o auge dos campos daqui. Suas histórias se tornaram cinzas e o seu ser arde em chamas; chamas de tristeza, de agonia. Sua expressão não poderia ser melhor ou pior que a minha. Ela não existe, logo não pode competir. É uma pena que rastejes por aqui. Sei que um dia já foste um belo Anjo.

E suas palavras então me calaram. Abandonei mais uma nuvem.