terça-feira, 19 de julho de 2011

Se você ama, diga que ama.


Se você ama, diga que ama. Não tem essa de não precisar dizer porque o outro já sabe. Se sabe, maravilha… mas esse é um conhecimento que nunca está concluído. Pede inúmeras e ternas atualizações. Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na frequência da escassez. De quem tem medo de gastar sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando moedinhas de afeto. Há amor suficiente no universo. Pra todo mundo. Não perdemos quando damos: ganhamos junto. Quanto mais a gente faz o amor circular, mas amor a gente tem. Não é lorota. Basta sentir nas interações do dia-a-dia, esse nosso caderno de exercícios.

Se você ama, diga que ama. A gente pode sentir que é amado, mas sempre gosta de ouvir e ouvir e ouvir. É música de qualidade. Tão melodiosa, que muitas vezes, mesmo sem conseguir externar, sentimos uma vontade imensa de pedir: diz de novo? Dizer não dói, não arranca pedaço, requer poucas palavras e pode caber no intervalo entre uma inspiração e outra, sem brecha para se encontrar esconderijo na justificativa de falta de tempo. Sim, dizer, em alguns casos, pode exigir entendimentos prévios com o orgulho, com a bobagem do só-digo-se-o-outro-disser, com a coragem de dissolver uma camada e outra dessas defesas que a gente cria ao longo do caminho e quando percebe mais parecem uma muralha. Essas coisas que, no fim das contas, só servem para nos afastar da vida. De nós mesmos. Do amor.

Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá...
Ana Jácomo

sábado, 16 de julho de 2011

Contos de Eric Lima - Parte IV


Sou de mim um alguém que escreve condutas e termos que não sei regrar. Neste Conto não sou a continuação daqueles outros já contados, tampouco sou um excerto de uma filosofia vivida, sou palavras vivas e letras ardentes; apesar de não saber o que venho contar, me ponho a escrever e sinto a brisa me guiar por linhas de uma montanha-russa de pensamentos. Deixo o arco-íris de mim transbordar as minhas cores.
 
Os últimos tempos tem sido calorosos, apesar de muito friorentos em determinadas etapas. Aprendo a controlar os fenômenos de mim e sem perceber acabo sendo controlado por outro; controlado não é bem a palavra certa a ser usada, já que me completo ao deixar que outra mão guie a máquina de mim.

As folhas de minha árvore caíram muito nos últimos meses, hoje elas voltaram a renascer, mas confesso que houve semanas em que pensei que meu tronco seria queimado pelo Sol ardente; ele acalenta, claro, todavia chegou forte demais... Quase não podemos resistir. Aqui eu uso nós, pois já não sou o único em mi, dentro do meu corpo vivem dois. Ou três? Perdi-me na definição daqueles que vivem aqui dentro. Conto um que sou eu mesmo, conto dois que sou outra parte que vai contra a primeira e conto três que é aquele que é externo a mim, mas que se faz tão presente e único que bate forte no meu coração.

Houveram momentos de boas batalhas e houveram momentos de colheitas infelizes. Nas minhas pesquisas, muito faltei. Das minhas rosas, muito cuidei. Troquei o lápis por beijos e me derreti em sabores; a conseqüência é inevitável e sei bem que meses mais serão contatos em minha dedicação final de leitura/aprendizagem.

Entro num grande castelo e me vejo como rei, mas não autoritário ou um deus da razão. Vejo um que fala num idioma diferente daquele que escrevo agora e vejo pessoas que ouvem, mas que dominam as letras que aqui escrevo; elas atentam e absorvem. Sei que daqui a alguns meses serão dominadoras da linguagem daquele rei. Hoje o rei ensina um, pratica três e amanhã ensinará dois, é certo. Num futuro, talvez, três ou mais.
Os coros da minha vida são muitos, canto nuvens e estrelas, canto águas e cachoeiras, canto vozes de desejos que um dia se cumprirão. Grito forte contra o céu, quero expandi-lo acima de mim e para mim.

Sou incertezas entre versos. Sou escrita orgulhosa, sou escrita certa, sou escrita imprecisa, sou dono de rimas, ainda que não as saiba interligar; escrevo aqui aquilo que não sei, não leio antes para os excertos combinar, escrevo apenas tudo que minha mente pode projetar. Chamo-os excerto, pois não são um todo de mim, são pensamentos corridos que se transportam em minha mente, os fotografo rapidamente aqui em minhas linhas. Se os perco, não importa, se os ganho, guardo a memória.

Ligo a televisão e vejo a tela de mim passar, assisto a tragédias e vitórias, assisto a dramas e romances bem vividos. Troco as telas por músicas e meus dias se tornam cantados. Sento ao piano e acaricio as notas do mundo, sem saber manejá-lo, imagino as cores que saltam de sua melodia.

Vivo o amor de um furacão sereno, vivo o amor de um furacão indomável. Os seus ventos são surpresas pra mim, corro dele e para ele, corro com ele e me banho nele. Quase sempre morre em vento sereno e nasce um aconchego inigualável, as vezes se lembra de que é um furacão e causa algumas dores, mas logo as acaricia. Ainda que eu não saiba até onde posso suportar, tenho amado bem. É uma natureza sem fim. Admiro-a em mim.

Nestes versos que muito contei, sempre haverá frases perdidas e parágrafos inteligíveis. Não são pedaços de você ou pedaços de mim, são reflexos do eu que vive aqui e são um todo do amanhã que construo. Guardo as histórias que me conto. Guardo o sangue que trasborda as felicidades e as tristezas de mim. Sou mais que lápis, papel, mais que um feliz extremo de mim. Sou eu, sou único, sou dois, sou três, sou um milhão de incontáveis números que nascem e morrem em mim.