sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Flores de mim


Cheguei a conclusão de que não vivo
Morri com os românticos de anos atrás
Vivo buscando a flor bela de um campo meu
e nunca a encontro nos campos teus

Me cego com dois ou três
e me perco em cinco ou seis
Me completo apenas por um,
mas nestes tempos não encontro nenhum

Planto cravos e espinhos,
colho gramas murchas e incapazes de viver
Reluto vida, reluto amor
Encontro dor, planto dúvidas

Sou o pólen das flores tuas,
mas minhas abelhas brincam em outros jardins
Não cai na febre dos fenos,
mas teus lírios me afastam demais

Brinco de Eva ao morder o fruto proibido
e encontro Adão nas minhas fronteiras
Sou Perséfone em nosso âmago e Atenas quase sempre fui;
me transformo em Afrodite e acabo como Artêmis

Sou a incerteza de dois corpos
envolvida no meu ser
Sou a vontade louca de amar
e a medida envolvente de outros seres em minha vida.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mutável


Sou mutável. Altamente mutável. Ora quero, ora não quero – sou absoluto na minha mutabilidade. Quero a todas as coisas com a mesma intensidade. Tenho a necessidade do querer. Quero nas horas mais improváveis. Quero mais ainda nas ocasiões exatas. No momento mesmo do acontecer. Tenho a força vital do querer. Em minhas carnes, em minha vontade. E eu a deixo expandir-se. Eu assim a quero. Tenho também, em mim adormecida, a força de expressão. Mas, quero a expressão como condição.

A condição de não ser uma opção. Porque ser condição é diferente de ser opção. E, na minha condição, tudo posso. E tudo podendo, eu quero. E ela liberta-se de mim e ganha o espaço. E, tonta pelo ar perfeitamente puro do espaço, ela se dilui, recompõem e cristaliza-se no espaço seguinte; E lá estou e não estou. Sou mágica de pensar que estou e não. Sou par de olhos castanhos rasgando a noite e sou boca cantando na noite. Mas, meus olhos não vazam toda a escuridão, nem minha boca canta todas as canções. Pois, há limitações no querer dos olhos, e também existem canções que não devem ser cantadas e, sim, vibradas. Em corpos muito próximos, cada vez mais próximos. Até que a lua, infinitamente cheia e branca, surja em meio ao negror noturno. Então, quero mutar-me mais ainda. Infinitamente.

Quero ganhar o espaço. O espaço de corpos unidos para que possa haver a condição. A condição de ser total e completamente a expressão do amor feito na noite.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Gotas


As gotas de mim caindo em mares de tristezas eternas
São gotas de manchas da minha história incompleta
Uma história de uma semana, de um mês ou um dia
Um único segundo reflete o eu de mim mesmo

Eu sou como uma onda perdida em um rio sem volta
Sou como as asas de um pássaro que busca sua tribo
Ou mesmo um passageiro que não sabe pra onde vai

Eu reconheço aqueles da vitória e mais ainda da derrota
Eu sou aquele que tem certeza de que deseja um alguém
E num outro instante já não o quer mais
Eu sou flexível ao máximo e destrono como um trágico acidente

Sou feito de pele macia, mas me visto de metal precioso
O meu toque é carinho e meus lábios são vontades
Meus olhos dizem por mim, minha face não fala
Eu sou um alguém

Eu queria ir pra casa, mas pra lá não sei voltar
E de lá, não sei de onde vim
Eu queria um momento meu e de alguém mais
Mas hoje já não sei mais quem é esse alguém

Eu não sou perdido, só não consigo me achar
Eu já me achei, mas continuo me querendo perdido
Eu sou as gotas das minhas lágrimas
De felicidade, de tristezas, de mim.