quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ato 13: Uma Página do Diário de Werfielldd


Sai da piscina, vesti o roupão e entrei na casa. Estava frio; o ar que entrou pela porta da frente era mais gélido que a água morna da piscina.

A lua era Cheia.

Troquei minhas vestes, me sentei no sofá e liguei a televisão. Minha sala vazia assistia a um filme que estava sendo exibido; a cena em que estava mostrava um homem no inferno de sua esposa suicida, tentando resgatá-la para poderem viver juntos novamente (mas agora no céu)¹.

Lágrimas.

Eu chorei com o corte do frio em meus braços; os abraços dele já não estavam mais aqui para me acalentar e a lareira já não saciava toda a minha sede de calor. De calor humano. Do calor dele. Dele.

Corri por desespero, nem sei pra onde. Mas corri. Subi as escadas correndo e me atirei contra um quadro. O quadro. Era preto e branco, em escalas de cinza. Mostravam árvores vazias e solitárias, ainda que estivessem bem próximas. O chão não era verde, menos ainda florido. Eu podia sentir a essência vazando daquele quadro; era aquele cheiro de chuva, aquele cheiro de vento, aquele cheiro de... Era o cheiro da tinta que caiu sobre o seu corpo, sobre o corpo de Mythis. Era um cheiro suave, um cheiro que penetrou meu ser.

Olhei a janela; dez andares me separavam do solo; a debrucei na tentativa de sentir o ar fresco, o ar puro de automóveis transitantes que passavam por ali por baixo. Me enganei ao fazê-lo e (como se não soubesse que corria riscos) cai.

Nono andar, oitavo andar, sétimo andar. Eu podia contar cada um deles, é como se até meu suicídio fosse devagar sem ele. Sexto andar, quinto andar... Sexto andar, sétimo, oitavo, nono, décimo, décimo primeiro. Uma luz brilhante. Já estava bem acima do prédio.

- Mythis!

Asas grandiosas e brancas, reluzentes a luz da lua. Era lindo.

"- Werfielldd!", ele disse serenamente. Eu olhei em seus olhos, que já não eram mais castanhos claros; mas agora azuis como um céu lindo (o meu céu lindo). Brilharam, sorriram pra mim.

"- O Amor, Werfielldd. O amor. Não a solidão, não a dor."

Eu respondi a Mythis com um beijo que nenhuma palavra poderia descrever. Seus lábios serenos tocaram-me a boca. Eu me deliciei em seus braços, em seu abraço.

E voamos para sempre em suas nuvens de algodão, feitas com o desejo do nosso amor.


O relógio tocou. Eram 08:23 da manhã de Domingo. A chuva caia lá fora.

"- Mythis!", eu gritei. Um vazio. O cheiro do quadro ainda estava lá, mas ele não.

Alguém bateu a porta. Abri e um homem alertou:
"- O funeral será realizado ás 18:00, como o Senhor pediu. Minhas lástimas."

E a história da minha vida se encerrou.

¹. Referência ao filme What Dreams May Come

O Amor Eterno


Entrei, sentei, esperei
E com medo de perguntar o tempo que levaria,
a tela da minha vida eu vi passar, eu vi morrer.
Minha alma continua esperando, aqui, sentado.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Miléia


Foges de mim, Miléia
Por que de mim foges tú?
Por que de mim já não me completo?

Miléia, de brancos e coloridos,
de chuvas e solidão
Teus trovões não à mim me assustam

Não fujas de tua metade
Corras para dentro de mim
Miléia de todos nós, sejas única para mim.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vazio


Ao fundo uma preciosa melodia
A sala está gelada, solitária
Com tantos lugares aqui em casa,
a platéia foi visitar o vizinho

Os livros estão sobre a mesa,
as folhas jogadas e a melodia mudou
O vento ainda é frio e minha mente pensa
Pensa...

Lá embaixo eu vejo flores, lindas árvores
Aqui em cima eu vejo água, muita água
Vejo pessoas e vejo também suas pobres (tão pobres!) casas
As folhas ainda estão na mesa

A melodia mudou novamente;
me fez acordar...
Pensar...
A imaginação levantou, foi visitar o vizinho.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Eu Sou


Eu sou a música insistente de toda manhã.
Os ensaios diários, vespertinos e noturnos.
Eu sou uma vontade inquieta de aprender.
Eu sou o sono que não vem na madrugada.
Eu já fui alternativo, pop e agora sou rock.
Eu sou a preguiça de comer
E a alucinação por escrever.

Eu sou a mente fértil e as dúvidas inquietantes.
Eu sou as perguntas retóricas.
Eu sou a mania de falar o tempo todo.
Eu sou a alegria intermitente em sorrisos sem fim.
Eu sou o impulso, a precipitação e o exagero.
Eu sou a crença quando tudo parece perdido
E a esperança até a última tentativa.

Eu sou o garoto tímido desconhecido
E o tagarela conhecido por todos.
Eu sou o inconformismo e a persistência.
Eu sou a sensibilidade à flor da pele
E a fortaleza oculta.

Eu sou aquele que ama dar abraços e beijos
E que ama igualmente receber beijos e abraços.
Eu sou suspiros de alegria e de tristeza.
Eu sou a criatividade ambulante
E a eterna mania de contar histórias.
Eu sou a ânsia de estudar e de passar num concurso.
Eu sou a cabeça que nunca pára
E o comilão compulsivo das noites.

Eu sou o filho brincalhão e sonhador
E o maluco que a todos diverte.
Eu sou o amigo que ri o tempo todo.
Eu sou um eterno aprendiz
E, o obcecado por espanhol que estuda Letras.

Eu sou o romântico incorrigível,
E o que é sempre fiel mesmo depois de traído pelo mundo.
Eu sou a espera pelo amor da minha vida,
A transparência dos meus sentimentos que me deixam vulnerável,
E a entrega completa a esses sentimentos.
Eu sou o carinho e a carência.
A insegurança notória e a força invisível.

Eu sou o olhar no futuro e o prisioneiro do presente.
Eu sou a vontade de entender tudo
E a certeza de que nunca vou entender nada do que quero.
Eu sou uma lágrima perdida entre tantos sorrisos
E a felicidade por finalmente não me sentir mais sozinho.

Eu sou a leitura alta de textos e mais textos meus ou de outros
Eu sou isso e mais um pouco
Sou, talvez, até menos. Eu simplesmente sou.

Texto de Germana Facundo (adaptado)

sábado, 18 de setembro de 2010

Ato 12: Um Ato Falho - Escrituras de um Cego

Há Quatro Meses Atrás

Corro para meu quarto e vejo um livro branco cheios de linhas a serem escritas. O toquei e suas lembranças foram transmitidas aos meus dedos; algumas vidas já passaram por ali e algumas outras ainda virão...

Eu pude ver flores nascendo e cachoeiras pulando de felicidade (que felicidade!). Vi seus montes e suas balsamináceas, juntamente a seus donos. Donos?! Não, eram livres. Vi grandes peripécias de mares serenos. E vi igualmente desigualdades de ondas desses mares. O livro é confuso, completo de vazios e cheios, mas só os encontro quando os toco.

Alguém bateu a porta, meu pensamento foi atender, a voz disse:

"Não tente entender as infelicidades das páginas, pois suas felicidades são encontradas em você. As escritas que aí estão levam um nome de autoria, chamam Amor."

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ato 11: O Abrir de um Livro


Cansei de olhar as fotografias da minha memória, os anos passaram, as décadas se foram e nada aconteceu. Eles não me procuraram, não me perguntaram sobre como a vida (daquele que um dia pertenceu as nuvens) caminha ou se minha asa se curou (e eu digo: ainda não, doi muito).

Amigos, família, o que eles eram afinal?! Estou confuso, mas certo de que a união não existia, ou melhor, a compressão. Eu busquei respostas, pisei nas lâminas do chão, sentei e quis entender a janela de cada um, mas ninguém olhou para dentro da minha. Todos me apontaram.

Eu era um grande Mestre, sabiam?! Muitas das práticas que são ensinadas na nuvem 26 foram criadas e desenvolvidas por mim. Os Anjos cantaram muitas glórias em meu nome e a infância nomeia Mythis como "O Herói", agora "do Passado".

Esses dias eu estive olhando o luar e vi uma estrela brilhar forte, os humanos dão outro nome a isso, mas eu sei bem onde estava e o que fazia, só não sei quem. Sei também que meu Livro foi aberto, as luzes foram grandiosas, só ele ilumina tanto. Percebi que uma página deixou de brilhar. E você deve estar se perguntando como sei desses detalhes, mas é que foi eu quem criou aquele espaço, aquela leitura, aquela magia, mesmo de longe identifico minhas obras. E onde estava? Em minha nuvem.

Um poeira do livro caiu, voei discretamente e com muito sacrificio, já que uma de minhas asas estava muito danificada. Peguei a poeira celeste e a dissolvi sobre minha ferida.

Estava feito! Finalmente minha grande asa se curou. Agora poderia voar alto e tentar retornar ao lugar em que sempre estive. O meu Livro não se acabará. Bato as asas e vou de encontro ao Céu.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ato 10: A Partida


Aquela casa nunca foi minha, precisei deixá-la
Não porque me foi dito, mas porque ali eu não existia
Uma de minhas asas queima, a outra eu já não sei mais

O meu céu se tornou escuro demais, tenho que ir embora
Saio em direção a lugar nenhum
Me perco em igualdades

Sabendo que sou distinto, reconhecendo que não pertenço a mim
As saudades me deixaram, o fracasso me dominou
Me perco em minhas solidões; quero um adeus.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ato 9: O Presente Que Eu Não Recebi


Lá do céu gritaram e eu ouvi
Fui tão rápido ao quintal que meu corpo ficou lá na sala
Olhei para o Céu e lá estava a Lua
Ela falou em línguas que só nós poderíamos reconhecer

Disse que a Nuvem 3 estava preocupada e que me queria por lá
Ela mandou um presente e com ele eu poderia curar tudo
Eu aceitei e corri pra dentro, peguei a caixa que mandou
E o presente não estava lá

As lágrimas correram, o desespero chegou; caem gotas de mim
A lua era irreal, subi as escadas correndo e me joguei na cama
Chegando lá encontrei meu corpo e o meu pesadelo despertou
Meus olhos transmitiram os mares que eu tenho vivido

O cheiro da casa já me perturba, ainda que só eu viva aqui
Os quadros carregam abstrações de mim mesmo
Os meus gritos estão guardados em cada pedacinho de cada quarto
Mas a minha Lua me fez enxergar que aquele presente não pode ser recebido aqui.

sábado, 11 de setembro de 2010

Fragmento de Um Poema


Inteligente e sedutora, caminhando entre os mortais
Uma caixa Ela trazia e, mais tarde, a abriu:
era o presente celeste. De lá sairam tantos males...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ato 8: O Luar de Mythis


Hoje é noite de luar
Há algumas nuvens no meu céu, mas lá fora está estrelado
É bonito e medonho, o meu mundo não brilhou hoje
Eu cansei e me entreguei

Hoje é noite de luar
O Outono não chegou e o Inverno eu não quero
Meu aconchego foi embora e minha cama dorme no campo celeste
Hoje é noite do luar deles

Hoje eu conto a noite do meu luar
Em que não há casas sorridentes ou almas voadoras
Meu luar não tem Lua e esplendor
Hoje é noite de...

Maldito luar, fui abandonado
Sou um réprobo celestial , minha nuvem não existe mais
"- Mythis!", ela me chama novamente.
Bate à porta a tempestade de memórias que só cai em mim.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ato 7: Um Ato Que Não Deveria Existir


Achei ter morrido, me perdi completamente. Os outros Atos já não me tocam e o ser que aqui escreve já não é o mesmo que tocou os outros Atos. Já não sou o mesmo da nuvem dois.

Nas últimas décadas eu tenho contado muitas histórias felizes e tenho tentado me alegrar. Eu assobio risos que não me pertencem e brinco de ser alguém.

Queria poder contar diamantes brilhantes, mas já menti o bastante pra conseguir isso. Eu tenho tentado afastar o que há alguns (muitos) meses se afastou de mim. Substitui aquele espaço por duas outras pérolas, as vezes elas brilham muito, as vezes eu as faço brilharem menos (não que realmente percam o brilhar, mas minha paixão -as vezes- diminui [se é que realmente existe]).

Eu queria poder gritar pro mundo que me curei daquela dor em minhas veias. Mas minha vida se uniu a Melpomene.

Ah... Eros, que saudades de ti!

As flores que crescem em meu jardim, não as acho encantadoras. Me apaixono pelas flores do vizinho. Mas não sei ao certo em que fase Perséfone está, me confundo em seus caminhos.

Os dias atuais eu já não sei mais. Acho que são brutos, acho que são serenos. Quero provar que tudo pode ser compensado e que as folhas que cairam há algum tempo não estão mais aqui, que o vento foi violento e as levou (sem chances de voltar).

Ontem a Lua falou comigo, uma faísca de esperança acendeu. Mas tudo morre. Não sei ao certo o que pensar...

Estas palavras, estes pensamentos... Nada deveria ser comentado. Este Ato deve ser ignorado. Voltemos ao Ato 6.

Sua P.


Parece que pretende dar continuidade a esta história. Está contrariado e começa a agir como um guri. Mas existem circunstâncias particulares as quais eu lhe explicarei talvez um dia; por bondade, pare e seja razoável. Que coisa estúpida tudo isso! Você é indispensável para mim e prometeu me obedecer. Lembre-se de Schlangenberg. Peço-lhe para ser dócil e, se necessário, eu lhe ordeno.
Sua P.

P.S.: Se está irritado comigo pelo que aconteceu ontem, me perdoe.

Citação do livro "O Jogador", de Fiódor Dostoiévski.

domingo, 5 de setembro de 2010


Chegamos às pedras e lá sentamos. Ela começou a falar:

“Não passamos de raios de luz adornados pela escuridão, tudo que glorificamos parou de flutuar; estamos no chão. Você já não representa mais os caminhos, você já não consegue mais brilhar nos céus, você não...”

Parei e a mirei nos seus serenos olhos castanhos. Atentei-me que a ela lhe gostaria ouvir alguns dizeres em retorno a sua fala. Eu não sabia o que contestar, gostaria de sussurrar em seu ouvido que a idolatrava, mas não poderia. Comecei calmamente:

"Não sei ao certo o que esperas ouvir, minha amada, mas a verdade é que junto a ti (como estamos vivendo) não consigo mais ver Eos chegar, minhas noites tem sido eternas. Queria ter o dom de Nereu e poder transformar cada linha do nosso tecido da vida para que estejamos entrelaçados, mas estou em máxima consternado. Não existem mais campos verdes com nascentes flores ou jovens crias de seres em glória."

Ela colocou sua delicada mão sobre a minha, a envolveu carinhosamente. Mergulhou em meus olhos e sabia que agora já não éramos mais um único pensamento, sabia que naquele momento acabáramos de oficializar a ramificação de nossa mente, de nosso coração; éramos dois ou mais, talvez.

Eu contemplei as lágrimas que escorriam em sua face e ela se tornou feliz com as que caiam sobre a minha. Juntos choramos. E essas lágrimas então brilharam e nossos olhos se tornaram novamente cintilantes ao enxergar a luz que Hélios agora trazia mais uma vez.

sábado, 4 de setembro de 2010

Desejo!


Desejo que hoje não seja o seu melhor dia
Porque se assim o for você não precisará viver os demais

Desejo que hoje não seja o começo
Pois o começo já foi feito há anos atrás

Desejo também que não seja o fim
Já que sendo o fim, eu não poderia mais me orgulhar de você

Desejo que hoje seja um dia, apenas um dia
E que sendo um dia, você possa desfrutar dele e lembrar de momentos simples
E ao se lembrar dos simples momentos lembre-se de mim

Não desejo que sejas feliz
Pois felicidade é algo que transparece em você

Desejo que seja você e que ao ser você seja eterna
E que sendo eterna seja heroína

Desejo que ouça os ventos, que nade no amor e que suba aos céus
E chegando lá, desejo que olhes para baixo e veja minhas lágrimas de felicidade por você

Desejo que construas novos caminhos
E que não se esqueça dos antigos, pois eles te levaram a rota certa

Desejo, acima de tudo, que tenha seus próprios desejos
E que os tendo, deseje que hoje seja uma comemoração apenas do que já comemoramos todos os dias

Deseje o seu viver, o seu ser especial, deseje ser você
Desejo, por fim, a celebração honrosa que é lembrar de você.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Borrar De Uma Tela


Brilha a melodia cantada por magos
Em suas magias de célebre cantar
Grita os montes dos pastores em glória
E ruge o leão na selva de cores

Pinta o pintor a pintura manchada
Pinta o pintor a mentira revelada
Cai a tinta nas margens da tela
Cai a tinta como a acesa vela

Ventilando as cores daquela selva criança
O leão, bravo guerreiro, desperta do sonho
Suas margens se borraram e o pintor então o apagou
Fugiu, correu, morreu numa pincelada de dor

Agora os montes sofrem demais
Os magos encenam magias em cristais
As histórias se tornaram contos
Seus poderes, a pintura, as cores, tudo virou abandono.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Melodia dos Céus


Ela está lá fora...
caindo sobre tudo
Derramando as dores e vitórias
Ouça... Ouça...

É como uma canção de ninar
É como uma leve bomba que está a estourar
Contando a todos o que vez fazer; mostrando a todos o que pode levar

Não escolhe sobre quem... Cai sem eleger
Desesperada ela está... Grita por segredos que não pode contar
Busca por alguém que a possa compreender
Mergulha nas fendas do chão e tenta de lá se libertar
Caindo...
Ouça... Ouça...

Cria luzer lá no alto... Com ruídos espetaculares
Bonita mesme sem se ver; tão apreciavél de escutar
E nós estamos com ela... Mesmo sem querermos ela vem e pode ficar
Você pode tentar, mas não consegue dela escapar

Sonhe ao seu som! Durma com seus gritos!

Desde pequeno ela vem te visitar
Agradeça o que ela vem te dar
Não expresse um adeus
Lembre-se da canção que ela oferece... A melodia dos céus

Ouça... Ouça....