segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Andorinha de Verão


Conta-se eras de mundos incertos, conta-se eras de mundos concretos. Utopia de vida transformada em realidade. Por amor de verdade.

Conta-se gritos de histórias inventadas. Conta-se também memórias resgatadas. Felicidade da vida, tristezas contidas.

Um pintor saiu de seu ateliê e o mundo foi pintar. Viu-se pássaro e então foi voar. Encontrou bela andorinha que junto então jurou amor. Amor esse de tu e eu que outrora se viveu.

A vida, finita, tornou-se encantada. Os dias em negrito, coloridos se fizeram. Os dias amenos se tornaram agitados e os bosques perdidos tornaram-se jardins encantados.

Desse mundo teu e meu que criamos - e das felicidades, histórias, memórias e vitórias que foram conquistas, as fizemos perpetradas.

A andorinha então fez 4 verões de alegria contada; e uniu-se famílias abrigadas num ninho conjunto. Contou-se alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas. Houve guerra em busca de paz. Houve paz em busca de guerra. Conselhos perdidos que ninguém atendeu. Corações felizes que ninguém entendeu.

Uma fronteira então nunca foi almejada. Pra sempre e por todo o sempre aquele ninho se mantém. Foram juras de amor e de sucesso a alcançar. O meu bem será então o seu, bem como suas vitórias serão as minhas.

Nesse último verão ventanias passaram, os galhos daquela árvore caíram aos poucos. Mas suas raízes se mantiveram bem fortes. Um lenhador então apareceu e prometeu que daquela floresta muitos prédios surgiriam, turbulentas vidas viriam e o cenário mudaria.

O pintor, sagaz, borrou o lenhador de sua tela. Pintou bela sinfonia espalhando o amor sobre os ventos soprados daquela floresta. A família mantêm-se unida, os cantos dos pássaros já não são tão sincronizados, mas buscam sempre o seu melhor.

O Sol então baixou. O verão acabou. O inverno se aproxima.

Desse ninho acalentado que ninguém nunca resolveu sair, uma andorinha então se detém. Ela se joga do ninho e voa atrás do seu pincel, seu futuro – diz ela – será pintado diferente. Pintará céus encantados e mundos divergentes.

Bate a asa pequenina, voa alto lá no céu, entre nuvens de esperança e nuvem de amor. Ela sobrepõe o ninho de verão e vai à busca do que a sua família não pode alcançar, estão cansados e precisam descansar.

O pintor, sagaz em sua magia, pinta então uma andorinha sobrevoando um mar de gratidão e gira forte em meio a ele uma onda de felicidade.

Voe alto andorinha, refaça o seu horizonte. Brilhe mais que o Sol pintado em tela. Faça suas próprias estrelas e não chore brilhos de sofrimento. Vá em seu trajeto desajeitado em busca de um acalentado verão. Lembre-se, andorinha de inverno, que sua família está no ninho, esperando pelo seu sucesso. Não ouse nunca dizer que foi um ingrato a viver no ninho, menos ainda que desprezo outrora tivera; nunca – jamais – diga que o amor nunca viveu e que o sentimento divino morreu.

O amor, pintor meu, supera as barreiras; vento vai, vento vem, ele precisa se adaptar. Esse amor é divergente e baila junto ao mar. As vibrações já não são mais as mesmas, mas as ondas continuam pulsando, os sentimentos se mantêm. Diferente todos os dias, não significa que não o amaria.

A andorinha, desajeitada sobre o céu, não consegue então dizer adeus. O pintor então desenha um sorriso e perpetua gargalhas dessa condição. Ele assina amor no verso da tela e explica que nunca precisará se despedir, pois aquele mundo foi eternizado em seu coração. E será uma vida de voos distintos, mas de encontros repentinos. Aprenderás a voar nos céus meus, assim como saberei nadar nos mares teus.

Não desperdice sua tinta em busca dum verão acabado. Voe em busca de um verão renovado. Encontre-se a si mesmo e lembre-se de sua família.
A andorinha, num último ato sobre aquela floresta, desenha então um coração ao céu e desperdiça todo seu amor sobre aqueles olhos cintilantes, fazendo-os lembrar que acima de tudo estará ali. Numa nova condição de voos, mas com memórias de vidas eternas vividas, com memórias que ninguém – nunca – jamais poderá apagar.

A andorinha, ao voar daquela tela, rabisca então ao lado do pintor. Quem olha a tela daquele mundo lindo vê assinado em duas cores: Amor. Gratidão.

Eu, escritor bobo que sou, ouso ainda mais. E violo a obra daquele pintor. Rabisco ainda no verso da tela e sobrescrevo as dores da vida, pinto forte e bem profundo, assino minha história contada sobre essa obra magnífica: A amizade é a base para qualquer laço. Não importa a mutação do sentimento, ela estará presente nos mares que nos detém. Voe bela sintonia e crie histórias e brilhantina. Sonhe e faça sonhar. Viva a realidade do seu mundo a pintar.