segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Contos de Eric Lima



Hoje fui deitar com as minhas lembranças e espalhei todas por sobre a cama. Olhei de repente algumas que estavam mais em cima e vi algumas boas loucuras e sorri por um momento. Joguei-me por sobre elas e fui pegando memória por memória em minhas mãos. Achei interessante como vivi muito e só depois de alguns (vividos) anos eu comecei a prestar mais atenção na vida. Antes não existiam amizades sinceras, preocupação com fidelidade e muito menos romances que se eternizaram. Puxei uma lembrança por sob mim, era pesada e trazia muitos momentos de bons delírios e de outros menos aproveitados.


Avistei uma recordação de há poucos anos atrás: descobri vida nova, novos momentos, novas pessoas, novos ambientes, tudo renovado (ou só eu que descobri o que já existia?! Não importa, vivi!). Cometi erros (isso se houverem erros) e acertos. Aprendi e reaprendi. O tempo continuou passando e fui vivendo o que a brisa trazia e sem perceber acabei caindo nas ondas mais turbulentas da vida, aquelas através das qual Afrodite fala. Vivê-las foi realmente intenso. Muito mudou.

Puxei algumas lembranças juntinhas num canto, tímidas, as olhei profundamente. Nelas o relógio continuou correndo e me transformei em um espelho. Eu fui uma completa máquina de realizar sonhos; pras pessoas eu fui seus desejos, suas loucuras, fui suas necessidades de ouvir e falar; fui uma secretária eletrônica, bem daquelas que só você fala e o outro apenas ouve (pois bem, eu só ouvia). Perdi muito com isso e ganhei também ou pelo menos achei que ganhei (hoje vejo que nada recebi em troca, apesar de não ter pedido algo em volta).

(E se você que está lendo isso acha que é uma confissão depressiva, está errado/a!)

Mais minutos se foram e eu perdi cada milésimo de segundo pensando nos sentimentos dessas pessoas que estavam (e alguns ainda estão) a minha volta. Nunca fui ouvido por eles e posso contar nos dedos quantos pararam e me deixaram falar (minha boca explode de tantas palavras guardadas). Na verdade, conto apenas dois (que se tornaram parte do meu maior tesouro) que trocaram palavras e não apenas ouviram (esses que valorizo não me deram a dor do silencio, deram-me a dureza da verdade: obrigado!).

Olhei perto do travesseiro da cama e vi uma lembrança muito tímida se escondendo ali. Ela trazia tantas vontades e nenhuma ação, deu-me pena quando vi e até quis repreender, mas lembrei-me que eram as minhas próprias recordações. A acariciei e ela se derreteu de amor por sobre mim; só precisava de carinho. Era uma parte de mim incapaz de demonstrar afeto. Que parte sofrida! ... Uma lágrima caiu (fui generoso ao mentir aqui, a verdade é que muitas lágrimas caíram). Não sei ao certo se devo chorar por essa memória que não pode ser concertada, mas as músicas tocadas me lembram muito a melodia do choro que invade o meu ser.

Ao lado da lembrança anterior vi uma lembrança quase gêmea, mas a única coisa que mudava é que era uma lembrança mais desafiadora, mais capaz de ações. Logo a deixei de lado, também trouxeram algumas lágrimas em minha face; dessa vez foi a saudade. Que saudade!

Vi muitas lembranças, algumas eu quis jogar pela janela, outras quis que dormissem comigo todas as noites e eu viveria anos só dos bons momentos. Mas até que me peguei preso por uma semana em meu quarto, em minha cama com as memórias mais amáveis do mundo (elas me davam carinho e palavras tão bonitas) e percebi que deixei de aproveitar horas e horas de um mundo que vive comigo agora e que me prendi ao que só estará em minha mente (e eu queria, trocaria qualquer coisa pra transformar tudo de novo em presente).

Foi então que peguei lembranças mais recentes e adivinha?! Continuei não aprendendo muita coisa; acabei vendo que ainda haviam muitas manchas das recordações anteriores, elas são fortes e abraçam as memórias atuais; como pode?!

Vi uma saltando freneticamente; foi uma aprovação tão desejada e tão buscada e as conseqüências dela são aulas diárias durante quase todos os dias de uma semana completa. Ah!, eu também avistei, junto dessa memória, um professor aprendendo métodos novos e oportunidades que se abriram (e outras que ainda virão).

Novas pessoas novamente, novos ambientes de novo, tudo novo de novo. E aqui dentro ainda bate memórias e memórias, são fortes demais. E elas miram o presente que vivo. Essas memórias sabem que tenho novos telefones e novos programas de televisão, mas ainda assim elas miram no alvo e acertam em cheio. Há dias em que me afundo profundamente nas minhas recordações mais turbulentas.

E de tudo, muitos se foram e alguns estão indo. Os mais próximos eu já não consigo enxergar. E os que são distantes, esses continuam com frases do tipo “Oi, tudo bem? Tchau!”. E o que farei com tudo isso? O que faço dos que foram e dos que nunca estiveram aqui? É tão confuso aceitar que há programas que simplesmente param de serem exibidos, é tão difícil saber que vou ligar a televisão e que aquele herói não estará mais aqui pra me proteger, pra me magoar e me ensinar (e até ser ensinado).

A realidade é que não sei quem sou justamente por ter tantas lembranças que não me definem; fui um pouquinho de vários Erics que existem em mim mesmo. Meus momentos atuais são confortáveis e confesso que até me agradam. Me pergunto se devo me juntar aos brinquedos e com eles brincar. Não sei se meu presente é um Buzz Lightyear com o seu “ao infinito e além” ou qualquer outro personagem, mas a verdade mesmo é que sinto falta do Homem-Aranha.

1 comentários:

Tainã Steinmetz disse...

Seu blog está LINDO *_*
Não se perca de mim!

Beijos