domingo, 1 de agosto de 2010

Ato 4: Recordações

Eu me lembro das epocas em que nadava em arco-iris, em que pulava de nuvem em nuvem; dos tempos em que eu subiria tão alto que tocaria o espaço em questão de segundos.

Eu me lembro dos toques das asas amigas e daqueles que partiram daqui, do Sol tão forte que só nos poderiamos vê-los. Hukkaniouus! (uma expressão que usamos aqui para saudar aquilo que acreditamos ser extremamento belo)

Lembro de um dia ter conversado com Sophie sobre os últimos acontecimentos da nuvem dois. Ela disse que já não haveriam mais tempos de brisa serena para mim e que eu deveria deixar de insistir naqueles que eu não sentia mais, naqueles que deixaram de me sentir. Eu estava ali e simplesmente deixaria de estar. Sophie foi determinada em sua fala, me assustou. Mas ela era meu reflexo, não mentiria para mim. Mais uma vez voei.

Eu me lembro de uma tarde linda de um céu colorido, depois de uma conversa com Sophie, em que eu estava voando por ele. Eu me senti perdido e girei ao ar, girei, girei, eu girei... Fiquei tonto, perdido. Não com as voltas, mas com a confusão do meu ser. As minhas asas já não carregavam um corpo santo, mas sim uma árvore oca. Eu cai.

Cai, mergulhei (ou achei ter mergulhado) tão forte que bati no chão. Fui além das fronteiras das minhas nuvens, das nuvens deles. Minhas asas doiam, elas se machucaram, uma delas queimou. Era insuportavel entrar no mundo daqueles que eu via por sob mim quando estava nas nuvens.

Eu me lembro de, depois de ter caido, ter ficado aqui. E depois de ter ficado aqui, ter encontrado o dom dos humanos. Eu me lembro de ter criado uma vida humana, na esperança de um dia verem meu brilho de lá de cima e me resgatarem; talvez a Lua pudesse me ver, mas ela era real demais para poder me levar de volta.

Eu me lembro de ter vivido. Vivido. A vida dos humanos e os carinhos incompreensiveis deles.
Era uma vez 'Mythis no Céu'. É a história que conto pra mim mesmo. As cinzas de mim me doem.

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