segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tarde de Domingo


O telefone tocou
Ele disse: "Vamos sair?"
Eu tentei esquecer os anos em que ele esteve fora
Respondi: "Não há pra onde ir!"
E, calmamente, contestou: "Apenas vamos andar por aí".
Eu não pude.

O telefone tocou de novo
E ele então falou: "Preciso sair".
Dessa vez eu não consegui hesitar e contestei:
"Fugiu e volta como se fosse um vizinho intimo?!"
A ligação caiu.

Peguei o telefone, só podia ouvir o som de "sem rede"
A esperança resumida em minutos trocada por abraços alheios
Aquela tarde se tornou a noite de outro

Pegou o telefone de novo
Mas desistiu naquele dia como em muitos outros
Ele desligou...
Desligou a minha vida!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Contos de Eric Lima



Hoje fui deitar com as minhas lembranças e espalhei todas por sobre a cama. Olhei de repente algumas que estavam mais em cima e vi algumas boas loucuras e sorri por um momento. Joguei-me por sobre elas e fui pegando memória por memória em minhas mãos. Achei interessante como vivi muito e só depois de alguns (vividos) anos eu comecei a prestar mais atenção na vida. Antes não existiam amizades sinceras, preocupação com fidelidade e muito menos romances que se eternizaram. Puxei uma lembrança por sob mim, era pesada e trazia muitos momentos de bons delírios e de outros menos aproveitados.


Avistei uma recordação de há poucos anos atrás: descobri vida nova, novos momentos, novas pessoas, novos ambientes, tudo renovado (ou só eu que descobri o que já existia?! Não importa, vivi!). Cometi erros (isso se houverem erros) e acertos. Aprendi e reaprendi. O tempo continuou passando e fui vivendo o que a brisa trazia e sem perceber acabei caindo nas ondas mais turbulentas da vida, aquelas através das qual Afrodite fala. Vivê-las foi realmente intenso. Muito mudou.

Puxei algumas lembranças juntinhas num canto, tímidas, as olhei profundamente. Nelas o relógio continuou correndo e me transformei em um espelho. Eu fui uma completa máquina de realizar sonhos; pras pessoas eu fui seus desejos, suas loucuras, fui suas necessidades de ouvir e falar; fui uma secretária eletrônica, bem daquelas que só você fala e o outro apenas ouve (pois bem, eu só ouvia). Perdi muito com isso e ganhei também ou pelo menos achei que ganhei (hoje vejo que nada recebi em troca, apesar de não ter pedido algo em volta).

(E se você que está lendo isso acha que é uma confissão depressiva, está errado/a!)

Mais minutos se foram e eu perdi cada milésimo de segundo pensando nos sentimentos dessas pessoas que estavam (e alguns ainda estão) a minha volta. Nunca fui ouvido por eles e posso contar nos dedos quantos pararam e me deixaram falar (minha boca explode de tantas palavras guardadas). Na verdade, conto apenas dois (que se tornaram parte do meu maior tesouro) que trocaram palavras e não apenas ouviram (esses que valorizo não me deram a dor do silencio, deram-me a dureza da verdade: obrigado!).

Olhei perto do travesseiro da cama e vi uma lembrança muito tímida se escondendo ali. Ela trazia tantas vontades e nenhuma ação, deu-me pena quando vi e até quis repreender, mas lembrei-me que eram as minhas próprias recordações. A acariciei e ela se derreteu de amor por sobre mim; só precisava de carinho. Era uma parte de mim incapaz de demonstrar afeto. Que parte sofrida! ... Uma lágrima caiu (fui generoso ao mentir aqui, a verdade é que muitas lágrimas caíram). Não sei ao certo se devo chorar por essa memória que não pode ser concertada, mas as músicas tocadas me lembram muito a melodia do choro que invade o meu ser.

Ao lado da lembrança anterior vi uma lembrança quase gêmea, mas a única coisa que mudava é que era uma lembrança mais desafiadora, mais capaz de ações. Logo a deixei de lado, também trouxeram algumas lágrimas em minha face; dessa vez foi a saudade. Que saudade!

Vi muitas lembranças, algumas eu quis jogar pela janela, outras quis que dormissem comigo todas as noites e eu viveria anos só dos bons momentos. Mas até que me peguei preso por uma semana em meu quarto, em minha cama com as memórias mais amáveis do mundo (elas me davam carinho e palavras tão bonitas) e percebi que deixei de aproveitar horas e horas de um mundo que vive comigo agora e que me prendi ao que só estará em minha mente (e eu queria, trocaria qualquer coisa pra transformar tudo de novo em presente).

Foi então que peguei lembranças mais recentes e adivinha?! Continuei não aprendendo muita coisa; acabei vendo que ainda haviam muitas manchas das recordações anteriores, elas são fortes e abraçam as memórias atuais; como pode?!

Vi uma saltando freneticamente; foi uma aprovação tão desejada e tão buscada e as conseqüências dela são aulas diárias durante quase todos os dias de uma semana completa. Ah!, eu também avistei, junto dessa memória, um professor aprendendo métodos novos e oportunidades que se abriram (e outras que ainda virão).

Novas pessoas novamente, novos ambientes de novo, tudo novo de novo. E aqui dentro ainda bate memórias e memórias, são fortes demais. E elas miram o presente que vivo. Essas memórias sabem que tenho novos telefones e novos programas de televisão, mas ainda assim elas miram no alvo e acertam em cheio. Há dias em que me afundo profundamente nas minhas recordações mais turbulentas.

E de tudo, muitos se foram e alguns estão indo. Os mais próximos eu já não consigo enxergar. E os que são distantes, esses continuam com frases do tipo “Oi, tudo bem? Tchau!”. E o que farei com tudo isso? O que faço dos que foram e dos que nunca estiveram aqui? É tão confuso aceitar que há programas que simplesmente param de serem exibidos, é tão difícil saber que vou ligar a televisão e que aquele herói não estará mais aqui pra me proteger, pra me magoar e me ensinar (e até ser ensinado).

A realidade é que não sei quem sou justamente por ter tantas lembranças que não me definem; fui um pouquinho de vários Erics que existem em mim mesmo. Meus momentos atuais são confortáveis e confesso que até me agradam. Me pergunto se devo me juntar aos brinquedos e com eles brincar. Não sei se meu presente é um Buzz Lightyear com o seu “ao infinito e além” ou qualquer outro personagem, mas a verdade mesmo é que sinto falta do Homem-Aranha.

Inutil



Comunicativo, sincero, atencioso...

Sou so perfect =)
MENTIRA!

Eu sou aquele que mente pra você
Aquele que finge ser um mundo e é apenas uma ilusão

Eu sou o meu medo e o medo de todos
Eu sou a covardia
Eu sou o vazio, além disso... Eu sou uma metade do nada e uma outra metade que ninguém quer

Eu sou o que vai rir com você, virar as costas e te achar idiota
Mas serei fantasia o suficiente pra te dizer que adorei

Com vocês, eu sou a diversão, sou os risos e os bons momentos
E sozinho, pra mim mesmo, sou as tristezas e os choros
Sou aquele que sempre se mostra forte, mas que –no fundo- é o ser mais fraco que você conhece

Eu sou o ser mais escuro dos Universos
E me mostro o ser mais claro de todos eles

Eu sou dor, ódio, perturbação
Sou perdido, sem querer ser achado

Sou uma história que ninguém quer ler
Mas mesmo assim espero por alguém que, curiosamente, tocará em minhas páginas
Sou como um livro que tem como titulo o meu próprio nome, mas esse nome têm mentido demais pra que alguém acredite nele

Na verdade, de tão inútil que sou, eu não sou nem isso que escrevo.

Solitude


E aqui jaz mais uma noite
Uma noite minha e tão somente minha
Que então compartilhei...

Eu vi rostos bonitos e faces obscuras
Mirei olhos que não eram os que eu queria
Admirei a tantos que saber contar nem saberia

Toquei lábios tão femininos e tão suaves que tive vontade de correr
Meus pés se firmaram no chão, insanamente desejando acordar
Fechei os olhos e então uma escuridão, vi três ou quatro estrelas brilharem

Naquele mar escuro de estrelas eu li pessoas que não conheço
E eu me trouxe de volta com a chuva caindo sobre mim, os pés frios e molhados
Eu olhei ao redor e procurei por algo que não sei
E então eu subi, subi alto em meus pensamentos e brinquei de realidade
Eu olhei dentro das gotas de água que caiam e desejei ser uma delas
Ser simplesmente como uma bomba que cai lá de cima e ao encontro com a terra estoura

Eu tentei ser um arco-íris e brilhar entre outros
Olhei pro Sol (fraco) e também as nuvens negras
Olhei dentro de mim, olhei para fora de mim
Parei, tentei pintar as cores... Cai intensamente
Eu tentei olhar onde meus olhos não podem enxergar
Vejo tão preto e branco que as cores eu não soube borrar
Sombrio, sozinho...

Venho aqui contigo me deitar, desejando como – Ó ti – saber jazer
Minha noite, noite linda
Minha e tão somente minha que não soube compartilhar.

Sábado à Noite



Aos poucos fui caindo, não entendi

Uma intensa tristeza bateu
Meu eu não me compreendeu

Uma vontade de chorar
Com lágrimas quase a derramar
Tudo se tornou cinzento

Foi confuso...
Inexplicável!

De repente uma vontade de sorrir
De tudo ali colorir
Lotar de cor meu interior

E os momentos se misturaram
O triste, o alegre, o confuso, se imitaram

Foi uma parte da noite,
Pequena, mas tão longa
Em que não sei explicar,
Simplesmente vivi sem perguntar.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

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Não haviam placas indicando o caminho.
Não haviam setas para me guiar.
Sem saber para onde ir, fiz meu próprio caminho
Apontei minhas setas... Descobri um mundo diferente, um mundo meu.
Daí encontrei você. Um caminho que me leva sempre em frente e que, as vezes, me faz olhar para trás, só pra lembrar um pouquinho do que já aconteceu.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ato 6: O encerramento. Eles chamam "fim"



Um dia nublado com muito vento
Ele veio a porta, bateu. Eu abri e ele disse:
"O tempo está exatamente como você gosta"
Eu respondi que sim, estava maravilhoso; sem chuva.

Ele ameaçou entrar, eu hesitei
Ele feliz e eu indiferente
Ele disse "Eu te amo" e me abraçou
Eu chorei por detrás de seus ombros

Ele se apressou a entrar, estava um lindo frio
Mais uma vez disse "Eu te amo", em seguida acrescentou: "Você me ama, certo?"
Eu tremi e respondi: "Não."
Seus olhos deixaram a chuva cair

Como uma criança obediente, ele disse: Tudo bem!
Susurrou: "Eu entendo", e virou-se.
Ele ameaçou sair; eu o abracei, o beijei e deixei o vento bater a porta.
Ele perguntou "Acabou?" e eu respondi: "Sim, eles chamam Fim".

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ato 5: Eu amei


Depois de alguns anos vivendo aqui, eu amei.
Seu nome? Não importa! Ele foi o bastante.

Acabou. Teve um fim. Não foi pra sempre.
Não poderia ter sido.

domingo, 1 de agosto de 2010

Ato 4: Recordações

Eu me lembro das epocas em que nadava em arco-iris, em que pulava de nuvem em nuvem; dos tempos em que eu subiria tão alto que tocaria o espaço em questão de segundos.

Eu me lembro dos toques das asas amigas e daqueles que partiram daqui, do Sol tão forte que só nos poderiamos vê-los. Hukkaniouus! (uma expressão que usamos aqui para saudar aquilo que acreditamos ser extremamento belo)

Lembro de um dia ter conversado com Sophie sobre os últimos acontecimentos da nuvem dois. Ela disse que já não haveriam mais tempos de brisa serena para mim e que eu deveria deixar de insistir naqueles que eu não sentia mais, naqueles que deixaram de me sentir. Eu estava ali e simplesmente deixaria de estar. Sophie foi determinada em sua fala, me assustou. Mas ela era meu reflexo, não mentiria para mim. Mais uma vez voei.

Eu me lembro de uma tarde linda de um céu colorido, depois de uma conversa com Sophie, em que eu estava voando por ele. Eu me senti perdido e girei ao ar, girei, girei, eu girei... Fiquei tonto, perdido. Não com as voltas, mas com a confusão do meu ser. As minhas asas já não carregavam um corpo santo, mas sim uma árvore oca. Eu cai.

Cai, mergulhei (ou achei ter mergulhado) tão forte que bati no chão. Fui além das fronteiras das minhas nuvens, das nuvens deles. Minhas asas doiam, elas se machucaram, uma delas queimou. Era insuportavel entrar no mundo daqueles que eu via por sob mim quando estava nas nuvens.

Eu me lembro de, depois de ter caido, ter ficado aqui. E depois de ter ficado aqui, ter encontrado o dom dos humanos. Eu me lembro de ter criado uma vida humana, na esperança de um dia verem meu brilho de lá de cima e me resgatarem; talvez a Lua pudesse me ver, mas ela era real demais para poder me levar de volta.

Eu me lembro de ter vivido. Vivido. A vida dos humanos e os carinhos incompreensiveis deles.
Era uma vez 'Mythis no Céu'. É a história que conto pra mim mesmo. As cinzas de mim me doem.