Conta-se eras de mundos incertos,
conta-se eras de mundos concretos. Utopia de vida transformada em realidade.
Por amor de verdade.
Conta-se gritos de histórias
inventadas. Conta-se também memórias resgatadas. Felicidade da vida, tristezas
contidas.
Um pintor saiu de seu ateliê e o
mundo foi pintar. Viu-se pássaro e então foi voar. Encontrou bela andorinha que
junto então jurou amor. Amor esse de tu e eu que outrora se viveu.
A vida, finita, tornou-se
encantada. Os dias em negrito, coloridos se fizeram. Os dias amenos se tornaram
agitados e os bosques perdidos tornaram-se jardins encantados.
Desse mundo teu e meu que criamos
- e das felicidades, histórias, memórias e vitórias que foram conquistas, as
fizemos perpetradas.
A andorinha então fez 4 verões de
alegria contada; e uniu-se famílias abrigadas num ninho conjunto. Contou-se
alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas. Houve guerra em busca de paz. Houve
paz em busca de guerra. Conselhos perdidos que ninguém atendeu. Corações
felizes que ninguém entendeu.
Uma fronteira então nunca foi almejada. Pra sempre e por todo o sempre aquele ninho se mantém. Foram juras de amor e de sucesso a alcançar. O meu bem será então o seu, bem como suas vitórias serão as minhas.
Nesse último verão ventanias
passaram, os galhos daquela árvore caíram aos poucos. Mas suas raízes se
mantiveram bem fortes. Um lenhador então apareceu e prometeu que daquela
floresta muitos prédios surgiriam, turbulentas vidas viriam e o cenário
mudaria.
O pintor, sagaz, borrou o
lenhador de sua tela. Pintou bela sinfonia espalhando o amor sobre os ventos
soprados daquela floresta. A família mantêm-se unida, os cantos dos pássaros já
não são tão sincronizados, mas buscam sempre o seu melhor.
O Sol então baixou. O verão
acabou. O inverno se aproxima.
Desse ninho acalentado que
ninguém nunca resolveu sair, uma andorinha então se detém. Ela se joga do ninho
e voa atrás do seu pincel, seu futuro – diz ela – será pintado diferente.
Pintará céus encantados e mundos divergentes.
Bate a asa pequenina, voa alto lá
no céu, entre nuvens de esperança e nuvem de amor. Ela sobrepõe o ninho de
verão e vai à busca do que a sua família não pode alcançar, estão cansados e
precisam descansar.
O pintor, sagaz em sua magia,
pinta então uma andorinha sobrevoando um mar de gratidão e gira forte em meio a
ele uma onda de felicidade.
Voe alto andorinha, refaça o seu
horizonte. Brilhe mais que o Sol pintado em tela. Faça suas próprias estrelas e
não chore brilhos de sofrimento. Vá em seu trajeto desajeitado em busca de um
acalentado verão. Lembre-se, andorinha de inverno, que sua família está no
ninho, esperando pelo seu sucesso. Não ouse nunca dizer que foi um ingrato a
viver no ninho, menos ainda que desprezo outrora tivera; nunca – jamais – diga
que o amor nunca viveu e que o sentimento divino morreu.
O amor, pintor meu, supera as
barreiras; vento vai, vento vem, ele precisa se adaptar. Esse amor é divergente
e baila junto ao mar. As vibrações já não são mais as mesmas, mas as ondas
continuam pulsando, os sentimentos se mantêm. Diferente todos os dias, não
significa que não o amaria.
A andorinha, desajeitada sobre o
céu, não consegue então dizer adeus. O pintor então desenha um sorriso e
perpetua gargalhas dessa condição. Ele assina amor no verso da tela e explica
que nunca precisará se despedir, pois aquele mundo foi eternizado em seu
coração. E será uma vida de voos distintos, mas de encontros repentinos.
Aprenderás a voar nos céus meus, assim como saberei nadar nos mares teus.
Não desperdice sua tinta em busca
dum verão acabado. Voe em busca de um verão renovado. Encontre-se a si mesmo e
lembre-se de sua família.
A andorinha, num último ato sobre
aquela floresta, desenha então um coração ao céu e desperdiça todo seu amor
sobre aqueles olhos cintilantes, fazendo-os lembrar que acima de tudo estará
ali. Numa nova condição de voos, mas com memórias de vidas eternas vividas, com
memórias que ninguém – nunca – jamais poderá apagar.
A andorinha, ao voar daquela
tela, rabisca então ao lado do pintor. Quem olha a tela daquele mundo lindo vê
assinado em duas cores: Amor. Gratidão.
Eu, escritor bobo que sou, ouso
ainda mais. E violo a obra daquele pintor. Rabisco ainda no verso da tela e
sobrescrevo as dores da vida, pinto forte e bem profundo, assino minha história
contada sobre essa obra magnífica: A amizade é a base para qualquer laço. Não
importa a mutação do sentimento, ela estará presente nos mares que nos detém.
Voe bela sintonia e crie histórias e brilhantina. Sonhe e faça sonhar. Viva a
realidade do seu mundo a pintar.